Caratinga no Mapa do Café de Excelência

Centro de Excelência do Café “Robinson Leite de Mattos Júnior” valoriza produção local e impulsiona renda de produtores familiares

 

CARATINGA — Instalado no distrito de Santa Luzia, em Caratinga, o Centro de Excelência do Café “Robinson Leite de Mattos Júnior” se tornou, ao longo dos anos, uma peça-chave no fortalecimento da cafeicultura regional. Inaugurado em 22 de junho de 2011, o empreendimento nasceu de uma parceria entre a Fundação Banco do Brasil e a Prefeitura Municipal, com investimentos de quase R$ 2 milhões. Mais do que uma estrutura física, o Centro é hoje um importante vetor de desenvolvimento econômico e social para o município e seu entorno.

Projetado para atender diretamente cerca de 200 famílias de pequenos e médios produtores e beneficiar indiretamente mais de mil pessoas, o Centro de Excelência eliminou atravessadores, agregou valor à produção local e garantiu a retenção de renda no município. “Aqui, o produtor entrega o café e já participa de todo o processo, desde a lavagem até a seleção eletrônica, sem perder o controle da sua produção”, explica um técnico da unidade.

Com um galpão de 708 m², dois conjuntos de lavadores, despolpadores, mucilaginadores e quatro secadores rotativos, além de terreiro pavimentado de 10 mil m², balança rodoviária e sistema de tratamento de água, o Centro conta ainda com tratores, caminhões e veículos utilitários, assegurando eficiência desde a semeadura até o beneficiamento final. Toda essa estrutura profissionalizada trouxe ganhos concretos: estima-se um aumento anual de 10% na produção e redução de até 40% nos custos de beneficiamento.

O impacto se estende ao comércio local, movimentando a economia de Caratinga em toda a cadeia produtiva — do preparo e colheita ao tratamento e venda do produto final. Em 2015, após fortes chuvas e um vendaval atingirem a estrutura, o Centro passou por uma ampla reforma, incluindo melhorias na cobertura, rede elétrica e frota, além da construção de uma caixa sedimentadora, capaz de reaproveitar até 30 mil litros de água por hora, reforçando o compromisso ambiental do projeto.

Além da infraestrutura moderna, o Centro de Excelência se destaca pelas ações de capacitação, em parceria com Sebrae Minas, Emater e Sicoob Credcooper. Cursos de gestão de custos, análise sensorial e técnicas de inovação vêm qualificando os cafeicultores da região para atender às exigências de mercados nacionais e internacionais de cafés especiais.

Para além dos números e equipamentos, o Centro de Excelência do Café representa a conquista da autonomia produtiva e a valorização da agricultura familiar de montanha. “O que antes era apenas produto bruto vendido a preços baixos hoje ganha valor agregado, reconhecimento e novas oportunidades de mercado”, comemoram os produtores locais.

 

 

 

A IMPORTÂNCIA

 

Em Minas Gerais, dos cinco existentes, o Centro de Excelência do Café “Robinson Leite de Mattos Júnior” é o único que está ativo, e atende cerca de 200 produtores por ano.

Clédson Ernane Ferreira é quem preside a Associação dos Produtores Familiares de Café de Caratinga e Região, do Centro de Excelência do Café. “O Centro de Excelência do Café está aqui em Santa Luzia desde 2011. Desde então, já funciona atendendo os produtores da região”, conta.

Ele lembra que o projeto foi criado especialmente para atender a agricultura familiar. “São pequenos produtores, pessoas que não têm condições de manter um terreiro ou secador próprio. A associação assumiu a administração e vem trabalhando, prestando esse serviço para os pequenos”, explica.

Clédson ressalta que a prioridade é atender os pequenos cafeicultores. “Se por acaso a demanda dos pequenos for menor e sobrar espaço, a gente cede para os médios e, em último caso, para os grandes. Mas a prioridade sempre será o pequeno produtor”, afirma.

Sobre o funcionamento e os serviços prestados, ele detalha: “Para trazer o café, o produtor precisa ser associado, mas se houver vaga e a demanda dos associados não ocupar toda a capacidade, a gente também atende quem não é associado. E o melhor: para se associar, não tem custo nenhum. Incentivamos isso. O produtor traz o café, a gente faz a secagem no terreiro, leva para o secador, faz a limpeza e entrega pronto para venda. Também oferecemos o serviço de frete, buscando na lavoura e devolvendo o café beneficiado.”

Quanto ao custo para o produtor, Clédson garante que é bem mais vantajoso. “A gente sempre coloca um preço abaixo da média do mercado regional. Este ano, por exemplo, o custo ficou em torno de R$ 80,00 por saca limpa, com frete e tudo. Enquanto isso, no mercado, tem gente cobrando de R$ 100,00 a R$ 120,00 pelo mesmo serviço.”

Ele lembra que a quantidade beneficiada por dia varia bastante, mas a média anual é expressiva. “Por dia, depende muito da quantidade de café no secador, mas, ao longo do ano, beneficiamos cerca de cinco mil sacas. E a demanda ainda é maior do que conseguimos atender. Por isso, estamos lutando para aumentar o número de secadores e dobrar esse atendimento. Tem muito produtor esperando vaga”, relata.

Clédson também comenta que, para quem quiser se beneficiar do serviço, basta procurar a associação. “Durante a safra, não aceitamos novas associações para evitar demanda de última hora. Mas, após a safra, qualquer produtor pode procurar nossa secretaria aqui no Centro e apresentar a documentação: escritura ou contrato de parceria, cartão do produtor, endereço e documentos pessoais. Assim, passa a ter direito aos serviços, inclusive os que oferecemos fora da safra, como aração de terra, manutenção de estradas e agora com equipamentos novos para plantio e preparo de insumos.”

Sobre cafés especiais e orgânicos, ele admite que o Centro ainda não atende esse nicho. “A demanda pelo café tradicional é muito grande. Mas a gente está estudando entrar nesse ramo para o futuro. Nosso objetivo é crescer e mostrar que o café da nossa região também é de excelente qualidade”, afirma.

Questionado sobre a origem dos produtores atendidos, Clédson explica: “Por enquanto, a gente só aceita produtores da região de Caratinga. A logística para atender gente de fora ficaria muito difícil. Mas, conforme for crescendo e abrindo espaço, a gente pretende expandir.”

E para comprovar a qualidade do café local, Clédson destaca o concurso realizado no ano passado. “Fizemos um concurso com amostras de todos os produtores que beneficiaram café aqui. Foram 82 amostras e, para nossa surpresa, 12 passaram dos 80 pontos. O primeiro lugar tirou 87 pontos, o segundo 86 e o terceiro 85. Eles foram premiados, receberam troféus. Foi uma alegria, porque mostrou que o nosso café é de boa qualidade. Só falta mesmo trabalharmos mais e divulgar isso para fora.”

 

SECRETÁRIO DE AGRICULTURA

 

Para o secretário municipal de Agricultura, João Paulo, o Centro de Excelência é essencial para o município. “O Centro de Excelência do Café é muito importante para Caratinga e para a região, porque hoje é o único Centro público de Minas Gerais que funciona de verdade. Ele foi construído com recursos públicos, em 2009 e 2010, e hoje está sob a administração da associação, mas com o apoio da Prefeitura”, enfatiza.

A Secretaria de Agricultura, segundo ele, é corresponsável por diversas ações. “Damos suporte na infraestrutura, no acesso ao mercado, na capacitação dos produtores e na própria organização da associação que administra o Centro”, detalha.

João Paulo também reforça o orgulho de ver o Centro se consolidando. “É um pessoal que trabalha muito, produz muito e, a cada ano, vem agregando mais qualidade ao café aqui da região. Hoje, Caratinga já começa a mostrar para fora que produz café de qualidade e que tem potencial para ser referência na produção de cafés especiais e para exportação”, completa.

 

“ROBINSON LEITE DE MATTOS JÚNIOR”

 

Robinson Leite de Mattos Júnior, conhecido como “Robinho”, filho mais velho do cafeicultor Robinson Leite de Mattos, deixou a faculdade de engenharia mecânica em 1981, para auxiliar seu pai na produção de café. Pai de três filhos, Philipe, Robinson Neto e Artur, foi um dos personagens que desenvolveram a cafeicultura em Santa Luzia nos anos 80/90 e 2000. Faleceu em 2004 e o, então, governo de João Bosco Pessine, o homenageou em 2011 com seu nome o Centro de Excelência do Café. Robinho iniciou e liderou na época, junto com comissão, a tradicional festa do café e tinha como lema ajudar sempre. Os novos cafeicultores na região de Santa Luzia procuravam a sede das Fazendas Robinson para buscar tecnologias, e iniciarem suas atividades do ramo.

O ex-prefeito Dário Grossi em 1987 adquiriu terra na região para plantar café e iniciar a história das fazendas Rio Doce. Como a Fazenda Rio Doce, dezenas de novos cafeicultores iniciaram a atividade incentivados por Robinho, tornando a fazendas Robinson não apenas uma fazenda, mas sim um centro regional de difusão de tecnologia do ramo.

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