Com a chegada do inverno, infectologista reforça a importância de manter o calendário vacinal em dia para reduzir internações e óbitos por infecções respiratórias entre a população idosa
CARATINGA- O frio ainda nem chegou com força total, mas os casos de infecções respiratórias em idosos já acendem um alerta. As temperaturas mais baixas e a maior permanência em ambientes fechados favorecem a circulação de vírus como o Influenza, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e o SARS-CoV-2, todos com potencial para causar quadros graves em pessoas com 60 anos ou mais.
Diante desse cenário, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) reforçou, em seu calendário 2024/2025, a lista de vacinas prioritárias para este grupo etário. “A vacinação não é apenas uma recomendação: é um investimento direto na autonomia, na funcionalidade e na vida dessas pessoas”, destaca o infectologista Klinger Soares Faico Filho, professor da UNIFESP e do InfectoCast.
Baixa cobertura e alto risco
Segundo o Ministério da Saúde, a cobertura vacinal contra a Influenza em idosos ficou em torno de 69% em 2023 — abaixo da meta de 90%. No caso da vacina contra o Herpes-zóster, que ainda não é ofertada no SUS, a adesão é ainda mais baixa, o que mantém muitos idosos vulneráveis a uma doença que pode deixar sequelas incapacitantes.
“Temos vacinas altamente eficazes para doenças que lotam nossos hospitais todos os anos. A baixa adesão não se deve à eficácia, mas à desinformação e à negligência institucional com políticas mais ativas de vacinação de idosos”, ressalta Klinger.
O que precisa estar em dia?
O calendário vacinal atualizado da SBIm lista as seguintes vacinas como essenciais para pessoas com 60 anos ou mais:
- Influenza (Gripe)
- Dose anual, preferencialmente com a vacina de alta concentração (HD4V), idealmente aplicada no outono.
- Pode ser feita simultaneamente com outras vacinas.
- Pneumocócicas (VPC20 ou esquema sequencial com VPC13/VPC15 + VPP23)
- Previnem pneumonias, meningites e sepse.
- O esquema ideal depende do histórico vacinal.
- Vírus Sincicial Respiratório (VSR)
- Nova recomendação da SBIm: vacina de rotina a partir dos 70 anos.
- Para pessoas entre 60 e 69 anos, a vacinação é indicada em caso de doenças crônicas, imunossupressão, fragilidade ou institucionalização.
- Aplicação em dose única, com proteção sustentada por dois anos.
- Covid-19
- Os reforços variam conforme a disponibilidade de vacinas e cenários epidemiológicos. A recomendação é seguir as orientações locais atualizadas.
- Herpes-zóster
- Duas doses da vacina inativada, recomendadas mesmo para quem já teve a doença.
- Disponível apenas na rede privada, mas indicada a partir dos 50 anos.
- dTpa (Difteria, Tétano e Coqueluche)
- Reforço a cada 10 anos ou atualização do esquema completo, caso haja histórico vacinal incompleto.
Internações evitáveis
Estudos demonstram que a vacinação contra influenza pode reduzir em até 70% as hospitalizações por pneumonia em idosos, além de diminuir significativamente os desfechos graves por VSR e Covid-19. O impacto é ainda maior em pessoas com comorbidades, como diabetes, DPOC e insuficiência cardíaca.
“O que estamos vendo é uma janela de oportunidade. Quando se vacina um idoso, não se evita apenas a doença, evita-se uma cadeia de descompensações que podem levar à perda da funcionalidade e até à institucionalização precoce”, explica o Klinger.
O papel das famílias e dos profissionais de saúde
Muitos idosos dependem de orientação ativa da família ou dos profissionais de saúde para atualizar seu esquema vacinal. A ausência de campanhas específicas e de busca ativa tem dificultado o avanço da cobertura. Além disso, o custo das vacinas em clínicas privadas ainda é uma barreira para muitas pessoas, especialmente no caso do Herpes-zóster e VSR, que não são oferecidas pelo SUS.
Onde se vacinar?
A maior parte das vacinas recomendadas para idosos está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS), como a Influenza, dT, hepatite B e pneumocócica 23-valente (VPP23). Já vacinas como a Herpes-zóster inativada (VZR), VSR (Arexvy® e Abrysvo®), pneumocócica conjugada 20-valente (VPC20) e Herpes-zóster recombinante podem ser encontradas em clínicas privadas.
Prevenção como política de envelhecimento
Com o avanço da longevidade no Brasil, especialistas defendem que políticas públicas de vacinação precisam ser reformuladas, com foco em envelhecimento ativo, funcionalidade e autonomia.
“Se quisermos garantir um envelhecimento saudável e produtivo, a vacinação precisa ser parte central da política pública. Ela é, ao mesmo tempo, individual e coletiva, clínica e estrutural. É um ato de autocuidado e de compromisso social”, finaliza Klinger Soares Faico Filho.