Márcio Caldeira Rhodes explica porque optou pelos laticínios
MANHUAÇU – É de conhecimento geral que a cafeicultura domina a economia de Manhuaçu. Porém, existem empresários que pensam diferente, mas não menos grande, como é o caso de Márcio Caldeira Rhodes, que optou pelo mercado de laticínios. “Todo mundo quer o mais fácil, e o café parece à primeira vista ser mais fácil. Plantou, colheu, vendeu e acabou. O gado, a pecuária leiteira, é uma coisa que tem mais dedicação. Desde a vaca, da cria, do beneficiamento do leite ou para inteirar com a cooperativa, é mais trabalhoso”, compara o empresário.
Márcio Caldeira Rhodes fala das ‘intempéries’ da economia e como saber lidar com esse fator. “Nos últimos anos houve uma baixa no café. Então a pessoa dependendo só de uma renda fica difícil. E toda propriedade tem uma área para mexer com o com o gado. Que seja gado de corte, de leite, porque o café não dá no brejo ou lugar úmido. O gado já gosta de lugar mais úmido, o capim cresce mais. Então eu já sou a terceira ou quarta geração que mexe com o leite, vem de família. Hoje beneficiamos nosso leite, faço o queijo minas, e embalo leite de sacolinha para agregar valor”, disse, fazendo uma observação, “é uma coisa que a faz com gosto porque todo ramo tem a parte forte e a parte fraca. Então a pessoa tem que gostar também. Não vou falar aqui ganha milhões, mas agrega valor à propriedade”.
O empresário volta a fazer uma comparação entre a cultura do café e a do leite e ressalta a participação da família. “Trabalho com a duas. O café é anual. Já o gado, se você tem um bezerro pra vender, tem uma vaca de descarte, tem o leite de todo dia, então isso vai agregando valor à propriedade. Tem a família que sempre pode estar ajudando. Eu trabalho com a família, minha esposa, meus filhos. Nós já tivemos aqui em Manhuaçu dois laticínios grandes e faliram por falta de investimento na região. Hoje para o lado de Luisburgo, a região é cafeeira, mas produz muito leite”.
Ele nota que em determinados locais, o leite sobressai ao café. “Em alguns lugares, o leite é mais produzido. Temos os produtores para montar uma associação e investir porque tem o subproduto do gado de leite. Não é só o leite, tem a vaca do descarte, o bezerro e o esterco que pode ir para lavoura. Tenho dois amigos que tem um composto, que investiram no composto para ter produto orgânico para jogar em suas lavouras e vai dando resultado. Chegou ao ponto de pararem de mexer com a bovinocultura leiteira porque não estavam achando viável. Quando fizeram a conta que tinha o subproduto do composto, a matéria orgânica do esterco, constaram que era viável. São coisas que dependem de investimento e procurar aprofundar, porque se depender só de uma fonte de renda, na hora que tiver uma crise igual a essa do café, o comércio para”.
Caldeira recorda que o mercado do leite é tão diferente que até para conseguir financiamento é mais complicado. “Aconteceu comigo há 10 anos, quando procurei o banco para fazer investimento de um trator. Levaram nove meses e meio para conseguir o recurso, mas se eu fosse cafeicultor com 20 dias já me atenderiam. Então falta um pouquinho de interesse do banco abrir esse crédito. Tem o crédito, mas pensam que nossa região não é pecuarista, não tem interesse nessa área”.
O empresário conta o trabalho que tem feito para mudar essa concepção por parte dos agentes financiadores. “Eu faço parte da diretoria do Sindicato e eu bato nessa tecla com senhor Antônio (Teodoro, presidente do Sindicato) para dar um espaço maior, porque o café é cultura anual, o boi todo dia, e toda a propriedade é um espaço para o boi. Então quem tem interesse, pode procurar o Sindicato, quem já tem crédito para fazer investimento, pode ir ao banco, que tem um limite de crédito na pecuária, só falta procurar. Se tiver alguma dúvida pode ir ao Sindicato, procurar a diretoria, que dão toda ajuda, porque tem que ter uma diversificação na propriedade”.
SELO DE QUALIDADE
Há dez anos, Márcio Caldeira Rhodes obteve uma grande vitória. Ela recorda que foi feito um apanhado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) onde 30 amostras de queijos foram analisadas. “Na época o meu foi o único que atendeu as exigências, só as embalagens com as informações nutricionais que não eram de acordo com Inmetro (O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), no mais, a garantia, controle de microbiológico, gordura, tudo foi tudo aprovado”, comemora.
Após essa análise, houve o pedido da Superintendência Regional de Saúde, com sede em Manhumirim, para a criação do Selo de Inspeção Municipal (SIM). “Nisso eu fui o pioneiro, o meu laticínio apesar de ser pequeno, mesmo com muito esforço, muita dificuldade, consegui me adequar a algumas outras coisas atendendo a inspeção. E hoje eu tenho a inspeção na parte do leite, que faço o leite sacolinha e na parte do Queijo Minas também. Então tenho o controle de qualidade. Os mercados onde entregamos exigem o controle de qualidade. Isso mostra que tem espaço para todo mundo. A população precisa dar prioridade aos produtos que tem esse controle de inspeção, sabem que estão levando produto de qualidade para casa”.
Ao final, ele agradece entidades que ajudam na produção leiteira em Manhuaçu. “A Secretaria de Agricultura é muito parceira, se esforça muito; de período em período tem alguns eventos, algumas feiras, priorizam abrir espaço pra gente que tem o SIM na área de laticínio, de ovos, de quitandas. Então eles dão prioridade ao pessoal que tem o SIM, porque sabem que ele está levando qualidade”, finaliza Márcio Caldeira Rhodes.