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A Morte de Lázaro e a naturalização da barbárie

Há algum tempo presenciamos uma avalanche de disseminação de ódio. Sendo praticada em todo e qualquer meio, os tempos sombrios fazem referência à imposição de uma antiga lei, não mais aceita, chamada “lei de talião”. Por vezes, a sociedade produz heróis e vilões que levam suas certezas a outras pessoas, deixando de lado qualquer sentimento de compaixão e empatia. Parece que o que mais nos mata é produzido por nós mesmos.

Em uma fuga de aproximadamente vinte dias, culminando no extermínio do “serial killer” Lázaro, a televisão e a internet teve com o que se “divertir”. Algumas pessoas zombavam da ineficácia da polícia do Distrito Federal, enquanto outras juravam vingança com as próprias mãos. Nesse parâmetro, o prêmio estava solto. E quem o executasse, seria colocado em um patamar de glória.

Enfim o alvo foi localizado. Com 38 tiros, ele padeceu em “praça pública” em uma operação que envolveu mais de 270 policiais. Carregado como um “porco abatido”, o vídeo onde o corpo aparece rapidamente foi compartilhado juntamente com a imagem do terrorista no IML. Algumas pessoas, inclusive pessoas que exercem um alto cargo no governo como o presidente da república, publicaram que o seu “CPF havia sido cancelado” – expressão usada para informar que alguém está morto.

É dia de festa, entrevistas, de compartilhar que o mal havia sido derrotado. E assim esquecemo-nos que o verdadeiro mal ainda está diante de nós. Deixamos de nos importar com as pessoas e principalmente com o que levou Lázaro a praticar tal atrocidade e a obter tal fim. A vítima, nesse caso, não são apenas as pessoas que tiveram suas vidas ceifadas pelo meliante e sim, também, o próprio. Lázaro é mais uma vítima da sociedade que esqueceu de onde nasce o mal e de onde ele pode continuar se reproduzindo.

É quase como “tapar o sol com a peneira”. Banalizamos a existência das atrocidades com a mesma naturalidade que Lázaro mata e expõe diante de nossos olhos nossa própria incapacidade de refletirmos. Todo esse frenesi, vem também de frases tão populares como o “Bandido bom é bandido morto”, contrapondo, é claro, a nossa constituição que exige que todo e qualquer acusado merece defesa e também indo de frente com os ideais cristãos que são tão defendidos.

Lembrei-me do governador do Rio de janeiro há pouco tempo comemorando a execução de um sequestrador. Também lembrei do rapaz do ônibus 147.  Existem muitas outras histórias que foram interrompidas com a punição de maior peso: a morte. Morte essa que não está prevista na constituição federal brasileira e que, normalmente, acalenta quem acha que um novo alvo não vai surgir.

Hoje foi um nordestino, amanhã será um preto, depois de amanhã um favelado. Não temos mais controle sobre essas ações pois também não paramos para estudar as mesmas e de onde elas vem. É preciso ir na raiz do problema para que eles não se repitam. É preciso ser prático, e nesse caso, praticidade tem a ver com inteligência, embasamento, educação de qualidade, articulação e políticas públicas. Continuaremos matando para não morrer, ao invés de não deixarmos morrer a resposta que nos fará não matar a nossa sociedade. A equação é simples. Só não se atenta quem não quer.

Marllon Bento

Jornalista, Assessor de Comunicação e Produtor Audiovisual

Diário de Manhuaçu

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