Artigo

A Pandemia e o momento da Fênix*

Conta a lenda que, quando sentia que iria morrer, a fênix construía uma pira nos ramos de um carvalho, ou no alto de uma palmeira, com incenso e ervas aromáticas. Instalava-se ali botava fogo em si mesma. Porém, após três dias, a fênix voltava à vida, ressurgindo das próprias cinzas, jovem e poderosa.

O mito dessa ave milagrosa nasceu entre os egípcios e, depois, foi incorporado nas culturas grega e de outros povos. O poeta grego Ovídio em sua obra “As Metamorfoses”, dedicada a textos mitológicos, exalta a única ave que se regenera e se reproduz por si mesma.

A fênix representa os ciclos da vida, o renascimento, a vitória da vida sobre a morte, a esperança.

Acredita-se, ainda, que o famoso pássaro mágico tenha uma força extraordinária e um monumental poder curativo, já que suas lágrimas têm o dom de eliminar as doenças.

Em síntese, a fênix incorpora a dialética da criação, onde integração e desintegração se impõem. O fogo destrói aquilo que não é mais necessário. E as cinzas, o que sobrou, originam o novo.

A mensagem da superação após tempos adversos é clara, assim como o convite para passarmos a limpo tudo o que se sucedeu, em busca de um recomeço.

A terrível pandemia que assolou o planeta trouxe com ela o fim de uma era. Nós nunca mais seremos iguais e nem o mundo em que habitamos. Chegamos ao momento da fênix.

E mesmo que algumas explicações não estejam ainda a nosso alcance, precisamos enxergar que tudo faz parte de um ciclo.

Nós acreditávamos que tínhamos as respostas para quase tudo e, na correria do dia a dia, sequer havia tempo de refletir para onde estávamos caminhando e qual seria, afinal de contas, o papel de cada um de nós nesse grande teatro.

Apenas quando tudo parou é que fomos obrigados a olhar o que estava oculto pelo cotidiano frenético.

O vírus da covid-19 nos forçou, de repente e sem aviso prévio, a enxergar que agora devemos tentar responder a perguntas diferentes e que precisamos nos desconstruir para nos construir, como faz a fênix.

A sabedoria milenar dessa ave mitológica reflete a esperança de que podemos buscar um futuro melhor para o mundo e para nós mesmos. A mudança deve começar em cada um, para exercer um poder multiplicador

E não há dúvida de que precisamos de novas habilidades para viver o novo ciclo. Mas como fazer isso?

Com o isolamento e a solidão da pandemia, ficamos longe dos amigos e parentes. Mas, ao mesmo tempo, essa condição não está sendo de todo ruim. Ela nos permite falarmos de nós para nós mesmos. Iniciar uma reflexão para o renascimento de um novo ‘eu’. Com novas atitudes, ideias diferentes e valores diversos.

É inegável que devemos buscar algo diferente do que foi nossa realidade até então.

Porque, o que construímos até fevereiro de 2020, está claro que não funcionou.

É hora de fazermos um mergulho em busca da transformação. Essa deve ser a lição extraída a partir da pandemia.

Mas, como fazer isso?

Em primeiro lugar, é preciso parar e respirar. Nem sempre isso é fácil, pois, teremos de lutar contra a procrastinação e encarar nossos demônios de frente. É fato que a arrogância, a soberba e as certezas absolutas nos turvam a visão. Buscarmos as zonas de conforto e isso é natural.

Também temos de lutar contra a impulsividade. Reagir rapidamente a um estímulo, sem dúvida, atrapalha nossa percepção. Não é à toa que os monges orientais ensinam, há milênios, técnicas zen de respiração, que levam à sabedoria e à felicidade.

Por isso, não tenha pressa em querer respostas.

Tudo tem seu tempo. E todo ciclo que vivemos tem um porquê. Para compreendê-lo, é preciso parar e respirar. Vale fazer ioga, meditação ou simplesmente dar uma caminhada ao ar livre.

O importante é clarear as ideias para tentar compreender o seu papel no mundo.

Já parou para pensar quem é você? A pergunta é complexa. Mas, o fato é que apenas nós é que podemos atribuir um sentido para nossa existência.

Um método que costuma ser válido para a maior parte das pessoas é começar olhando para o nosso reflexo. Note que as pessoas com quem nos relacionamos refletem o nosso espelho.

Quando nos apercebemos da nossa imagem no outro, é possível fazer um balanço entre o que acreditamos que somos e como as pessoas nos veem. Faça essa autoanálise.

Para cada ação, existe uma reação.

Mal educado, gentil, ausente, influente, apático? As reações que provocamos nas outras pessoas são mensagens valiosas. Dão pistas sobre nós mesmos e sinalizam nosso impacto no mundo. Trazem, enfim, um desenho do que precisamos melhorar.

Todos nós temos pontos fortes que não são explorados. Essas habilidades precisam ser despertadas.

Por isso, comece a observar como as pessoas reagem à sua presença, ao que você fala e àquilo que faz.

Muitas pessoas acham que não conseguem lidar com desafios grandes. E têm o hábito de focar o problema. Devemos, ao contrário, nos concentrar nas soluções.

Felizmente, sempre é tempo de mudar.

Nossa capacidade de superação é algo extraordinário.

Mas, lembre-se que toda transformação leva tempo para ser assimilada. E como acontece com a maturação de um fruto, temos de respeitar o ciclo.

Com quietude, e sem o impulso de abandonar os momentos de reflexão, você vai conseguir olhar o todo e entender a situação na qual está inserido.

Tudo é possível quando temos o objetivo de melhorar.

Nossa força interior é gigantesca. E promover essa mudança significa viver com um novo propósito.

Basta acender a chama da renovação.

E vale a pena retomar a histórica frase de Sócrates: “só sei que nada sei”.  Ou seja, quanto mais você aprender, você saberá que nada sabe. E abrirá espaço na sua vida para se aprimorar, para buscar a melhor versão de si mesmo.

Devemos procurar onde está o bom, o belo, o justo, o verdadeiro. E nos lembrar que a fênix renasce das cinzas mais bonita do ela era.

Ao promover essa mudança de paradigma, iremos iniciar um ciclo virtuoso. E sairemos dessa fase bem melhores do que entramos.

*Fernando Henriques é diretor financeiro da S.I.N. Implant System

Diário de Manhuaçu

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