A QUESTÃO NÃO ESTÁ EM PAUTA.
Margareth Maciel de Almeida Santos
Doutora em Sociologia Política (IUPERJ)
Membro do Instituto Nacional dos Advogados do Brasil (IAB-RJ).
O mundo de olho nos EUA, é a capa do Estado de Minas do dia 05 de novembro de 2024.
Dia 05 de novembro ocorreram as eleições nos EUA, quando eleitores de várias partes do território americano foram às urnas para escolher o nome de quem iria substituir o presidente Joe Biden na liderança da maior potência do mundo.
Uma informação que por meio de pesquisas, achei interessante e gostaria de compartilhar com vocês, foi que “as eleições dos Estados Unidos ocorrem sempre na primeira terça-feira de novembro, data em que foi definida em 1845”.
Novembro foi escolhido por ser logo após os eleitores de zonas rurais poderem participarem sem comprometer o trabalho no campo. Isso significa a preocupação com a maioria da população norte-americana que vivia em áreas rurais e dependida da agricultura. Denomino esse fato como democracia, onde todos e todas podem ir escolher seu candidato, sem estradas serem interditadas por pessoas que querem evitar a alteração do resultado de forma ilegítima.
Mesmo que as pesquisas apontaram para um embate muito próximo entre os candidatos e nos informaram que seria uma eleição acirrada, Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos foi o vencedor, Partido Republicano.
Trump retorna a Casa Branca em 2025, após perder as eleições de 2020 para Joe Biden, de quem Kamala Harris é vice-presidente, e foi a candidata pelo Partido Democrata.
É importante ressaltar que Kamala aceitou a derrota, e ligou para Trump, nesta quarta-feira dia 06 de novembro/2024, parabenizando-o. E o mais interessante foi que Trump reconheceu a “força, profissionalismo e tenacidade” de Kamala na campanha e falou da “importância de ambos para unificar o país”. (Por g1).
Diferente do que aconteceu aqui no Brasil na última eleição para presidente, foi que a resposta de Trump ao receber o telefonema de Kamala, chamou a atenção do mundo, quando Kamala propôs uma transição pacífica de poder para a nova gestão de Donald Trump. Além disso pediu a união entre os norte-americanos, enfatizando em seu discurso sobre a defesa da democracia e a união, nos conta os diversos tipos de mídias. A posição de Trump, quanto de Kamala, mesmo após o debate presidencial organizado pela ABC News, nos EUA, onde ocorreram trocas de acusações pesadas de um para com o outro, o comportamento dos dois candidatos foi fantástico. Deixaram as acusações de lado e se propuseram a construir por meio uma unificação de propostas fazer uma América melhor. Esse é o ponto de uma democracia onde o PAÍS, a vida dos cidadãos americanos possa se transformar para melhor.
A pergunta que fica é a seguinte: – O que será que levou uma pessoa, sendo mulher e negra, candidata à Presidência dos Estados Unidos a ser derrotada e não conseguir a confiança do eleitorado americano, mesmo tendo como pontos centrais temas de direitos das mulheres em sua campanha democrata?
A derrota de Kamala se deu mesmo os americanos saberem que, possivelmente Trump deveria comparecer em 26 de novembro para ouvir sua sentença no caso envolvendo pagamento ilegal a uma atriz pornô, onde ele foi condenado pelo Juiz Juan Merchan. Apesar dessa notícia, que ficou estampada em todas as mídias, seria o suficiente para votar em Kamala e não em Trump?
Entre as pesquisas que realizei encontrei a professora de relações internacionais Denilde Holzhacker, do Núcleo de Estudos e Negócios Americanos da ESPM, que analisando a derrota de Kamala, disse que pode ser explicada da seguinte forma. Dentre as inúmeras, cito algumas, as quais gostaria de compartilhar três das que foram apresentadas pela professora de relações internacionais: “1) dificuldade em convencer o eleitorado de que seu governo seria diferente da gestão Biden, especialmente na agenda econômica e na melhoria da qualidade de vida do cidadão comum. 2) desconfiança entre eleitores masculinos sobre sua capacidade de liderança especialmente sendo uma mulher negra, o que pode ter ampliado a resistência. 3) O tempo foi pouco para que Kamala para se distanciasse do governo Biden e construir alianças com eleitores”.
Inúmeros pesquisadores estão estudando o que aconteceu sobre a derrota de Kamala, já que como disse acima a democrata Kamala e o republicano Trump apareciam em empate técnico em todos os estados tidos como decisivos. E foram nesses estados que tanto a campanha de Kamala quanto a de Trump concentraram seus esforços para virar as preferências do eleitorado. E quais serão as preferências dos americanos após a batalha, quem saiu vitorioso foi o republicano Trump?
Não é fácil aumentar o número de eleitores, pois isso desencadeia grandes desafios para apresentar indícios positivos e estimular que o cidadão possa realizar a troca de seu candidato. Sobre a questão de Kamala ser mulher e negra, sabemos que a voz desses grupos ressoa no mundo inteiro por políticas públicas que lhes permitam a igualdade social, sem gerar lacunas de questões morais. Digo isso porque a sociedade em geral tem dificuldade de compreender e legitimar a falar das minorias, se importando mais com o sexo e com a cor da cidadã ou cidadão.
Interessante, pode-se falar aqui, sobre as consultas populares. Os norte-americanos, além de escolherem quem irá governar a América, estes também participaram de consultas populares como temas sobre o aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e políticas migratórias.
Essas consultas populares são consideradas importantes, pois, apesar de não serem “realizadas nacionalmente-aconteceram em 41 dos 50 estados- e focarem somente em assuntos estaduais ou locais, tendem a influenciar nas políticas públicas futuras, cujos temas podem ser incluídos nas cédulas de votação a partir de uma iniciativa popular” nos conta o site g1.globo.com.
Isso se torna democrático para debater o tema proposto pela legislação estadual, ou local. É como se estivéssemos em uma aula de direção e nos darmos de frente com um sinal dizendo para a direita, ou para esquerda ou para a frente e nos obrigar a escolher qual caminho tomar. Se eu não quero ir para frente, terei que procurar um outro sinal que permita virar para onde eu me sinta confortável com o que eu escolhi. Abrindo aqui um parêntese, essas consultas foram usadas em Belo Horizonte para que os eleitores além de escolher os prefeitos e vereadores, se manifestarem também sobre a aprovação da nova bandeira da cidade de Belo Horizonte.
Mas retornando para a democracia americana e destacando aqui o debate que citei acima, Trump x Kamala, será que essas consultas populares influenciam na escolha do candidato?
Kamala Harris criticou duramente as políticas de TRUMP, com especial foco em questões sociais e o aborto. Ela classificou as posições do republicano sobre o aborto como “um insulto para as mulheres americanas. Trump também não ficou para trás e chamou Harris de “marxista” a relacionada a uma agenda socialista e a favor do aborto.
Esses temas polêmicos usados em consultas populares, muitas vezes podem ser usados como armas pelos candidatos para emburrecer a sociedade, desvalorizando o outro, em uma confrontação político- ideológico? Será capaz de fazer com que os estadunidenses tomem outro rumo?
Trump disse que Kamala é socialista, no entanto que a conhece por meio das mídias sabe que ela é democrata, e que o democrata vive dentro de um sistema capitalista.
Para entendermos melhor sobre a DEMOCRACIA DA AMÉRICA, título dado por Alexis Tocqueville quem se atentou para os fatos sociais, a história política ocorrida nos Estados Unidos, procuramos pelo Professor Lier e saber qual é a leitura que ele fez após resultado das eleições de 2024 nos Estados Unidos. Dr. Lier é nosso colaborador, o professor Dr. Lier Pires Ferreira, cujo currículo se encontra nesse artigo.
ENTREVISTA
José Horta, editor do Diário de Caratinga, fez os seguintes questionamentos:
Como o senhor avalia a eleição de Donald Trump?
A eleição de Donald Trump, avassaladora, representa um ponto de inflexão com os valores liberais-democráticos que marcaram os EUA desde sua formação. Salvo em período excepcionais, como o macarthismo, do ponto de vista das suas relações políticas internas o país sempre foi pautado por esses valores, iluministas, fortemente marcados pelo Espírito das Leis, de Montesquieu. Não mais. O que saiu das urnas, não apenas com Trump, mas também com o Congresso Nacional, somado ao controle Republicano da Suprema Corte e o domínio trompista da máquina partidária, é uma América avessa à democracia-liberal, avessa à razão iluminista e marcada pelo domínio da “nova direita”, pós-neoliberal, plasmada em Trump. Trump está plantando as bases de uma verdadeira revolução, que impactará fortemente os destinos dos EUA e do mundo para muito além do seu mandato.
No Brasil existe uma concepção que de Partido Democrata seria de ‘esquerda’, mas tanto republicanos e democratas são de direita. Como o brasileiro gerou essa concepção?
Nada mais tolo do que acreditar que o Democratas são de esquerda, embora, sim, existam Democratas que são de esquerda, como Bernie Sanders. Essa percepção está ligada ao fato de que os Democratas tendem a ser mais protecionistas, mais intervencionistas e mais preocupados com valores humanistas que os Republicanos. Isso, todavia, não os faz de esquerda. Ao contrário! São capitalistas até a raiz do cabelo e absolutamente comprometidos com a propriedade privada dos meios de produção, com a lucratividades dos negócios, com a rentabilidade dos investimentos e com a livre-iniciativa, marcas indeléveis do capitalismo e, portanto, valores que, no todo ou em parte, tendem a ser rejeitados pelas forças progressistas, ou seja, por aquelas que estão à esquerda do espectro político.
Quais virtudes e defeitos Donald Trump tem?
Donald Trump tem inúmeros defeitos. É mentiroso, arrogante, machista, misógino, racista e xenófobo, características que listo como defeitos a partir dos referenciais humanitários pelos quais pauto minha vida. Além disso, é absolutamente descomprometido com a institucionalidade democrática, é belicoso e possui nítidos pendores autocráticos, o que também qualifico como defeitos, a partir dos meus referenciais existenciais. Inobstante, tem virtudes. Em primeiro lugar, é um grande comunicador. Segundo, é profundamente carismático e, por fim, soube capturar o ressentimento, a frustração e o rancor daqueles que se sentiram traídos pelas promessas da globalização, da PAX AMERICA, daqueles que acreditaram que o mundo pós-Guerra Fria seria um mundo moldado à feição e aos interesses dos EUA, enfim, daqueles que acreditaram nas promessas da neoliberalismo e das novas realidades da produção e do mercado gestadas entre os anos 1980 e 1990, a partir da liderança da última grande liderança Republicana nos EUA, Ronald Reagan.
Paradoxalmente, para contrapor os efeitos do “veneno” neoliberal, Trump e os arautos da “nova direita”, como Elon Musk e Peter Thiell, prescrevem mais mercado, menos direitos, mais guerras econômicas. Em outras palavras, apontam cinicamente na direção de tudo aquilo que, no médio e longo prazo, tendem a concentrar ainda mais a renda e a riqueza, enfraquecer a democracia e ampliar a pobreza e a desigualdade social, traindo o sonho americano, que ficará cada vez mais restrito aos bem-sucedidos, aos vencedores de qualquer forma e a qualquer preço. Enfim, apontam para uma distopia neoliberal, cujos efeitos se farão sentir muito em breve, em particular para os mais pobres.
O discurso de Trump em favorecer a classe média foi o seu diferencial?
O discurso da prosperidade, do “self-made-man”, do “do it your- elf”, do empreendedorismo precário, do corre vazio de direitos e de dignidade, enfim, da liberdade do mercado fez a diferença não apenas entre as camadas médias, mas para o conjunto mais amplo da população, que não identificou em Kamala Harris e nos Democratas as condições e a energia necessária para responder à crise socioeconômica que grassa na América. Seduzidos pelas promessas de riqueza e prosperidade de gurus como Bobbie Carlyle, mulheres e latinos, como, em menor grau, negros e árabes, apostaram suas fichas nas promessas de prosperidade trazidas por Trump. A ver, se, adiante, não irão se arrepender, talvez tarde demais.
Bill Clinton, quando presidente, teve seu governo marcado por escândalos sexuais, que inclusive que geraram pedidos de impeachment. Algo que ficou marcado para o eleitor estadunidense. Porém, Trump foi condenado por abuso sexual e difamação contra escritora E. Jean Carroll, tem ainda o caso com a atriz de filmes de conteúdos adultos, Stormy Daniels. Por que o eleitor americano ‘condenou’ Clinton e ‘absolveu’ Trump?
Eu não diria que Clinton foi condenado. Afinal, foi reeleito mesmo após seus escândalos sexuais e deixou a Casa Branca com o maior índice de aprovação de um presidente desde a II Guerra Mundial, muito em função de uma ideia que, anos mais tarde, veio a marcar o governo Obama: a reforma do sistema de saúde. Algo sensível às pautas identitárias, hoje vistas como o túmulo das esquerdas na América e em outras partes do mundo, inclusive no Brasil, Clinton efetivou o direito dos homossexuais servirem às Forças Armadas, por meio da política “donnt ask, don’t tell”. Todavia, é certo que Clinton também pagou seu tributo à moralidade, não emplacando seu sucessor, derrotado pelo Republicano George W. Bush.
Trump é o primeiro condenado a assumir à presidência dos EUA. Também foi o primeiro a atentar diretamente contra a democracia, no triste episódio do Capitólio. Neste sentido, foi, sim, anistiado pelos eleitores. No entanto, quiçá tenha pagado antecipado pelas muitas diatribes do primeiro mandato, perdendo a reeleição pelo um já decrépito Joe Biden A saber se, adiante, seus muitos delitos não voltarão a pesar contra ele que, no momento, é um dos mais emblemáticos e poderosos líderes políticos do história americana.
Uma grande parcela de brasileiros apoiam Donald Trump, mas ele disse em setembro de 2023, que imigrantes ilegais estão “envenenando o sangue” dos Estados Unidos, frase que foi classificada como racista e xenofóbica. Como explicar este apoio a alguém declaradamente xenófobo?
Algo como a “Síndrome de Estocolmo” ou a história da “barata” que se encanta com o “inseticida” fazem parte da alegoria política. Brincando com as palavras, foi isso que aconteceu nos EUA e acontece, também, no Brasil, onde o imaginário político é ocupado pela triste figura do “pobre de direita”. O fato é que, no caso dos imigrantes norte-americanos, em particular dos latinos, o fato é que eles também não querem novos imigrantes no país, não querem dar lastro às políticas xenofóbicas, racialistas, que certamente virão no próximo governo Trump. É um egoísmo pragmático, que diz que “nós já estamos aqui, danam-se os outros”.
Com a vitória de Trump, podemos esperar deportações em massa?
A promessa é de deportação em massa, sim. Biden já não havia mudado as políticas trompistas para os imigrantes e, com os novos poderes que lhe vieram com a maré vermelha nos EUA, Trump tem tudo para animar sua plateia e promover estas ações abjetas em seu segundo mandato, uma nova cruzada, não pela fé, mas pela pureza étnico-racial da América, na qual, inclusive, muitos trompistas não acreditam, mas sabem que dá voto e movimenta a máquina política.
Quando Trump aceitou a nomeação do Partido Republicano como candidato presidencial, em julho, ele prometeu “acabar com a devastadora crise inflacionária imediatamente, reduzir as taxas de juros e diminuir o custo da energia”, ou seja, ele quer menos impostos para ricos e empresas?
Isso mesmo. A ideia é que os ricos geram riqueza, não o trabalho. Nessa lógica, mercadocêntrica, para gerar riqueza você tem que destravar os empreendedores, os investidores, os agentes econômicos privados, pois eles, não os trabalhadores, geram riqueza. Daí a redução dos custos para maximizar os ganhos, dentro da lógica “vícios privados, benefícios públicos”.
Trump também disse que planeja criar impostos de 10% a 20% sobre a maioria dos produtos estrangeiros, com as importações da China sofrendo o impacto de 60%. Isso é protecionismo ou é o que pede o mercado?
Os EUA sempre foram protecionistas e os chineses são o adversário a ser enfrentado. Logo, certamente receberá sanções. Mas, repito, os EUA sempre foram protecionistas. Perguntem, por exemplo, a um exportador de aço brasileiro se não falo a verdade. Isso é parte da sua história. Afinal, a Guerra de Secessão não foi travada pela liberdade dos negros, mas pela tutela do mercado interno para as indústrias então nascentes nas colônias do Centro e do Norte. Só que, nos setores em que são competitivos, eles, sim, liberalizam o mercado. Quanto às políticas desenvolvimentistas, eles “chutam a escada” dos periféricos em favor de si mesmos. Assim são os EUA, só que gostamos mais de discursos do que de fato, gostamos mais de crer do que de conhecer. Afinal, conhecer dá trabalho…
Batizado de Projeto 2025 e elaborado pela fundação conservadora Heritage Foundation, trata-se de um plano com mais de 900 páginas que prevê uma série de mudanças na estrutura de governo americana que podem afetar o país para muito além dos quatro anos de mandato de Trump. O Projeto 2025 propõe colocar toda a burocracia federal — incluindo agências independentes, como o Departamento de Justiça — diretamente sob controle do presidente. O senhor que o Congresso estadunidense aprovaria este projeto?
As instituições americanas são fortes, mas, como disse anteriormente, Trump está plantando as bases de uma revolução. Ele tem amplo domínio sobre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Anarquistas, socialistas e comunistas costumam se acreditar revolucionários, mas, frequentemente, vemos que as revoluções são capitaneadas pelos interesses do capital. Tem sido assim, com raras exceções, desde a Revolução Francesa, de 1789… Enfim, o poder é sempre relacional e ninguém pode tudo, mas, nesse momento, Trump parece que pode muito, e não vai deixar de utilizar o seu amplo poder. A ver as consequências…
Trump disse que se ele fosse presidente, conflitos como na Ucrânia e em Gaza não existiriam. Mas seu primeiro mandato foi marcado pelo isolacionismo e unilateralismo. Como será o posicionamento do governo de Trump nestes conflitos?
Estou convicto de que Trump tentará estancar esses conflitos. Na Palestina, pela legitimação da política genocida de Netanyahu. Na Ucrânia, pelo pragmatismo na relação com os russos, que não deixarão de levar nacos importantes da fronteira eurasiática. Enfim, haverá algo como a “paz dos vencedores”. Neste tabuleiro, algumas concessões também serão feitas, como, potencialmente, o reconhecimento de um esquálido Estado Palestino. No mérito, Trump não liga para os fracos. Não querará perder muito tempo com ucranianos, palestinos e congêneres.
Lula disse que estava torcendo pela Kamala Harris, embora ela mesmo tenha manifestado preocupação da ligação do Brasil com a China. Com a vitória de Trump, como fica a relação Estados Unidos e Brasil?
Lula chutou uma bola fora, mas, em tempo, soube se recuperar, parabenizando Trump pela vitória. Trump não liga para o Brasil, tampouco para Bolsonaro, Marçal e outros de menor hierarquia. Mas o cenário não é legal para o Brasil. O país vai ser tratado dentro da lógica da Doutrina Monroe, as Américas para os (norte) Americanos. O “big stick” estará em voga. Uma saída pode ser o BRICS, mas de um modo ou de outro, o Brasil e as esquerdas pagarão um preço alto, pois os lacaios do Império são muitos entre nós, sendo também poderosos e burulhentos.
Houve um período onde Trump e Bolsonaro eram presidentes. Do ponto de vista econômico, essa aproximação ideológica foi benéfica ao Brasil ou pelo contrário, governo Trump em nada favoreceu ao Brasil?
A relação Trump-Bolsonaro nada trouxe para o Brasil, senão reforçar a subserviência. Hoje, até os militares foram capturados pela lógica do mercado. Já não são mais nacionalistas, desenvolvimentistas como foram no passado. Não duvidaria que, num sincrônico governo Trump-Bolsonaro, até uma base militar americana poderia vir a ser, finalmente, implantada no Brasil. Afinal, o entreguismo, a síndrome de sabujo, é enorme em Bolsonaro e sua trupe.
A extrema-direita brasileira festeja a vitória de Trump. Como essa eleição pode influenciar a política brasileira?
Já está influenciando. A vitória de Trump fortalece a extrema-direita, que, agora, tem um exemplo a mostrar: se deu certo nos EUA, tem tudo para dar certo no Brasil, reeditando, em seus próprios termos, a triste lembrança de Juracy Magalhães.
Enfim, o que esperar da volta de Donaldo Trump à presidência dos Estados Unidos?
De alguma forma creio que essa resposta já está posta em todas as respostas anteriores. De todo modo, dá para dizer que teremos uma América e um mundo mais excludente, desigual e desumano, onde pautas como meio-ambiente, feminismo, direitos sociais e dignidade humana tenderão a ser varridos para debaixo do tapete. Um mundo mas cru, sem mediações, enfim, um mundo pior para os pobres e ainda melhor para os ricos.
Agradecimento
“Estimado Professor Lier, em nome do Diário de Caratinga, agradecemos o seu apoio e aproveito para que lhe pedir desculpas por recorrer ao seu saber mais uma vez, e sempre lhe enviar questões em última hora. Confesso que a minha inspiração para que eu possa desenvolver um texto vem quando estou em meu tempo limite. Mas mesmo lhe pedindo desculpas gostaríamos de contar sempre com o seu potencial que faz abrilhantar ainda mais o nosso Diário de Caratinga”, destacou Margareth Maciel.
PAZ E BEM!