Artigo

A QUESTÃO NÃO ESTÁ EM PAUTA

Margareth Maciel de Almeida Santos

Doutora em Sociologia Política

Membro do Instituto Nacional dos Advogados do Brasil/ RJ (IAB)

 

 

Comentei com vocês como é assustador ver a quantidade de pessoas morando nas ruas em muitas capitais, principalmente aqui em Belo Horizonte, onde moro. Neste contexto, ontem li o site,(economia.uol.com.br/noticias/bbc/2020/09/25), sobre a fome no Brasil, pessoas que vivem em situação de insegurança alimentar grave. A pesquisa se refere aos anos de 2017 e 2018, quando o presidente Jair Bolsonaro se referiu à produção de alimentos (22/09/2020) e disse:

“No Brasil, apesar da crise mundial, a produção rural não parou. O homem do campo trabalhou como nunca, produziu, como sempre, alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas. O Brasil contribuiu para que o mundo continuasse alimentado”, afirmou o presidente. “Garantimos a segurança alimentar a um sexto da população mundial (…) O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos” texto citado por Ricardo Senra, no referido site.

O que ficou obscuro, foi a justificativa do presidente diante da referida pesquisa, onde esta aponta dados do IBGE, esclarecendo que mais de 10 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar grave e o total de brasileiros que passam fome cresceu segundo o órgão em 3 milhões de pessoas em cinco anos, conforme o mesmo site citado acima.

Ainda segundo o referido site, (economia.uol.com.br/noticias/bbc/2020/09/25), o IBGE divide o conceito de insegurança alimentar em 3 categorias;

“A INSEGURANÇA LEVE acontece quando a família não tem certeza se terá acesso a alimentos no futuro, e quando a qualidade da comida já é ruim.”

“A INSEGURANÇA MODERADA surge quando os moradores já têm uma quantidade restrita de alimentos-menos comida na despensa o que o satisfatório.”

“A INSEGURANÇA GRAVE, quando os moradores passaram por privação severa no consumo dos alimentos.”

Isso é muito preocupante seja em qualquer parte do mundo, mas principalmente quando o nosso presidente diz que o Brasil contribui para que o mundo esteja alimentado, sendo que no dia 11 de outubro de 2021, o site bbc.com/portuguese/brasil-58810987, nos informa que milhões de crianças vão passar fome no Brasil neste 12 de outubro deste ano, (Paula Adamo Idoeta da BBC News Brasil em São Paulo).

Isso parece irreal quando deparamos com o tamanho do nosso país e concomitantemente as realidades brasileiras se esbarram na ausência de direitos básicos como emprego e moradia.

Sabemos conforme nos foi apresentado por meio dos diversos tipos de mídia que a expansão da pandemia de Covid-19 acentuou ainda mais a desigualdade social e econômica entre as classes sociais. Os transtornos com o sofrimento, para mim foi o ponto central que acelerou o processo da ida das pessoas para as ruas. Muitas vezes as questionei em lugares diferentes e não consigo conhecer realmente o que elas sentem, mas vejo a impotência de não poder sustentar mais a família, e vejo o quanto a fome agrava a situação, pois estar sem trabalho e sem renda é desesperador.

O Estado precisa entender que a necessidade de dar atendimento a essas pessoas e não deixar a injustiça social prevalecer, é sistematizar as ações de saúde, acompanhadas das políticas de assistência social e moradia. Como uma pessoa que mora na rua pode estar vacinada contra o covid, se dizer imunizada contra o referido vírus, se não tem moradia e nem a forma de como se higienizar?

Em 28 de junho de 2021, o site bbc.com/portuguese/brasil-5730224, por meio de Laís Alegretti nos foi informado que “não é só efeito da pandemia: por que 19 milhões de brasileiros passam fome”.

Vimos que a pesquisa citada acima foi realizada entre 2017 a 2018, e que o número dos que passavam fome eram de 10 milhões de brasileiros e agora em 2021, a fome alcançou o número de 19 milhões de pessoas no Brasil.

Se as exportações do agronegócio brasileiro avançaram, conforme falou Bolsonaro, por que ocorreu o aumento da fome no Brasil?

Para Alegretti, segundo os especialistas em segurança alimentar, políticas públicas e desigualdades, ouvidos pela BBC News Brasil, “o alastramento da fome no Brasil é reflexo também do fim ou esvaziamento de programas voltados para estimular a agricultura familiar e combater a fome, além da defasagem na cobertura e nos valores do Bolsa Família”.

No mesmo site, a socióloga Letícia Bartholdo nos conta que “ a desestruturação das políticas públicas voltadas aos mais vulneráveis foi agravada com a pandemia, mas ela ocorre desde antes. Explica também que na cobertura e nos valores do programa de transferência de renda, o Bolsa Família, está a defasagem da chamada linha de pobreza. Hoje têm direito ao benefício famílias com renda familiar per capita de até R$178. Ainda explica que a desatualização é preocupante porque cria duas filas no Bolsa Família: uma por falta de orçamento, das famílias que cumprem os critérios e não são atendidas e a outra fila de pessoas pobres, que passam fome, mas não são consideradas pobres administrativamente”.

Ainda segundo o site, o presidente Jair Bolsonaro disse que “pretende ampliar de R$190 para R$250 o valor médio pagos aos  beneficiários do Bolsa Família, além de explicar que o auxílio emergencial criado durante a pandemia tem sido reconhecido como importante ferramenta para combater fome e pobreza, ainda que insuficiente.”

O negócio é o agronegócio que vai aonde ele tem mais lucro, e como fica a população dos mais vulneráveis, a grande maioria da população que vive com um salário abaixo da renda aceitável para sobreviver? Aonde se encontram as políticas de fomento aos agricultores familiares?

Continuaremos no próximo episódio.

PAZ E BEM!

Diário de Manhuaçu

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