Artigo

A RESTAURAÇÃO ACONTECENDO-2

A restauração das raízes dos que “transtornaram o mundo”

porque quem elevar a si mesmo será humilhado, e o que se humilhar a si mesmo será elevado. (Mt 23.12)

Este versículo do evangelho de Mateus aponta para uma figura literária muito usada – é quando se faz um paralelismo invertido. Para ser mais claro, se tomarmos algumas peças de um jogo de xadrez – os dois reis, os dois bispos, e os dois peões -, e os colocarmos na ordem invertida, começando com o rei branco, o bispo branco, o peão branco, e continuando com o peão preto, o bispo preto e o rei preto, teremos um paralelismo invertido, ou uma estrutura ao inverso.

Isso se chama quiasmo (do latim chiasmus), que é um dispositivo literário aplicado a motivos narrativos, frases de efeito ou passagens inteiras. Esse padrão aparece nas Escrituras em, por exemplo, ‘Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado’.

No caso de ‘Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos’, a referência é usada para mostrar sequências de acontecimentos. Deus usou este padrão não somente na sua Palavra, mas, também, quando aponta para as eras bíblicas. Ele ordenou que o fim fosse como o começo, e o começo como o fim.

Do ponto de vista da história, então: No começo da era em que vivemos, Israel desapareceu do mundo. Mas foi profetizado nas Escrituras que, no final dos tempos, Israel reapareceria. No início dos tempos, o povo judeu foi espalhado de Israel até os confins da Terra. Mas foi profetizado que no final da era eles seriam reunidos desde os confins da terra até Israel. No início dos tempos, o povo judeu foi expulso de Jerusalém. Mas no final dos tempos, eles deveriam habitar em Jerusalém mais uma vez.

Em relação aos cristãos, no início da era os crentes no Messias foram perseguidos por uma civilização mundial anticristã. Assim, também, no final dos tempos, temos profecias de que haverá novamente uma civilização mundial anticristã e perseguição contra os crentes no Messias.

Mais ainda: No início de nossa era, o Messias saiu deste mundo a partir de Jerusalém. De acordo com o princípio literário e da cronologia divina, no final da era ele retornará a este mundo e a Jerusalém.

E, muito interessante: foi no começo dos tempos que os crentes do Livro de Atos andaram pela terra. Isso quer dizer que, no final dos tempos, crentes iguais aos de Atos andarão pelo mundo, sem medo de nada e ninguém, unicamente temendo e obedecendo ao Senhor.

Hoje mais e mais cristãos não-judeus reconhecem que eles são gentios. Por outro lado, há vários textos que parecem dar a ideia de que não há mais essa diferença que a Bíblia dá. (Rm 3.9; 10.12; 11.11, 25-26). Uma coisa a pensar: se não reconhecemos nossa origem, é possível que nossa compreensão da Bíblia ainda sofre debaixo da influência de padrões e métodos da cultura e filosofia gregas, que ‘entrou’ na igreja pouco tempo depois do Século I.

Ademais, até pouco tempo pensava-se que os textos do Novo Testamento tinham sido escritos originalmente em grego. Ultimamente há uma corrente de estudiosos que questiona essa interpretação. Por quê? Os autores do Novo Testamento eram todos judeus (até Lucas está sendo visto como de origem judaica), e que a língua na qual eles escreveram primeiro foi no hebraico. A verdade é que – do ponto de vista de especialistas gregos nativos que examinaram o texto bíblico em grego – o grego do NT é uma língua profundamente diferente do grego original (mesmo do comum, que ficou sendo conhecido como ‘koinê’ ou comum).

Durante o segundo século de nossa era, o antissemitismo aumentou muito também entre os crentes de origem gentílica, o que fez com que o entendimento original hebraico (como se aprendia do Antigo Testamento) foi sendo posto em segundo plano. A mente hebraica foi substituída pela mentalidade grega. Essa perda afetou muito a igreja no entendimento da riqueza plena da fé bíblica como um conteúdo único desde a Criação até os últimos dias.

Praticamente todos os seguidores de Jesus eram judeus no início da igreja. E ele também tinha acentuado que ele viera primeiramente para os judeus, o seu povo (Mt 15.24). Mais importante ainda: a igreja primitiva não era vista como uma nova religião, mas como uma derivação dentro do judaísmo (At 24.5). Na verdade, quando Pedro se dirigiu ao povo no dia de Pentecostes, a pergunta que estava na mente das pessoas era se o Evangelho seria também para os gentios!?

O medo dos judeus era de serem ‘engolidos’ pela cosmovisão dos gregos, trazendo muitas consequências diretas sobre a fé e cultura dos seus antepassados. Voltando um pouco – a partir do IV século antes de Cristo, quando Alexandre, o Grande conquistou o Império Persa, ele fez tudo para helenizar o mundo. E os judeus fizeram de tudo para que isso não acontecesse. Da parte do judaísmo, havia forte movimento de preservação das tradições, e sobretudo, da fé herdada dos pais.

É isso que Paulo está reconhecendo em Romanos 9.3-5. Nossa compreensão da igreja primitiva estava baseada na exegese teológica das palavras gregas dos manuscritos do Novo Testamento. Mas nem sempre reconhecemos que muitas das práticas e entendimentos da fé dos primeiros cristãos tinham sido adaptados de práticas de judeus tementes a Deus. Para nós, cristãos, até pouco tempo atrás, fizemos a associação do judaísmo com aquelas práticas e ensinos dos sacerdotes, fariseus e os membros do Sinédrio que Jesus criticou e condenou. Assim, a impressão ficou que não havia nada de bom na cultura e religião de Jesus. Terrível engano!

Aqui alguns exemplos: Você sabia que muitos rabinos dos dias de Jesus ensinavam que “você precisa nascer do Alto”, isto é, a experiência do nascimento espiritual? Outra novidade para muitos de nós: Já havia nas sinagogas homens que serviam como apóstolos, evangelistas, anciãos e diáconos? E o batismo nas águas – era uma prática comum entre o povo judeu.

Assim, ao buscar nossas raízes hebraicas, vamos encontrar tremendos ensinos originais de homens judeus que temiam ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Mais ainda: no dia de Pentecostes (Atos 2.5), a grande maioria dos que atenderam o apelo de Pedro eram estes judeus tementes a Deus.

Como já foi dito, muitas elucubrações filosóficas e divisões de opiniões levaram os crentes a buscar apenas o sentido das palavras gregas. Paulo aconselha seu ‘filho’ Timóteo: … que maneje corretamente a palavra da verdade (2Tm2.15). Para tanto, ele ordenou que Timóteo se esforçasse no estudo e na aplicação dos ensinos hebraicos e nas práticas nos dias de Jesus na terra.

Imagine todos nós buscando os significados originais, dos dias de Jesus – que revolução isso traria a nossas comunidades!

Restauração tem a ver com esse movimento bem definido. Assim como Israel perdeu a Palavra em pelo menos três ocasiões no registro bíblico (2 Reis 22.2 – Rei Josias; Ne 8.1,8 – nos dias do governador Neemias; e em Mateus 23, e outras – nos dias de Jesus), isso poderia acontecer com qualquer povo, inclusive com os que se dizem seguidores de Jesus.

Voltando para a ordem inversa mencionada acima: nos últimos dias, os cristãos dos primeiros dias estarão de volta, isto é, estarão vivendo, testemunhando e transtornando as cidades como naqueles primeiros dias. Não diz que estarão coligados aos governantes, nem construindo grandes templos.

“Eles devem andar pela terra novamente!” “E nós devemos ser essas pessoas”, disse alguém que considerou isso.

Portanto, viva hoje como se você fosse um dos crentes do início da igreja. Como eles venceram o mundo deles, supere o seu. … e o amor de muitos esfriará por causa do crescente distanciamento da Torah. Mas quem suportar até o fim será libertado. E estas boas-novas a respeito do Reino serão anunciadas em todo o mundo como testemunho a todos os goyim (gentios). Então virá o fim (Mt 24.12-14).

Próxima semana continuaremos com o assunto da restauração do povo de Deus.  Seus comentários são muito bem-vindos!

Que o Senhor te abençoe e guarde; o Senhor resplandeça o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti. Sobre ti o Senhor levante o seu rosto, e te dê a paz!

 

Rev. Rudi Augusto Kruger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – rudi@doctum.edu.br

Diário de Manhuaçu

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