Ildecir A. Lessa
Advogado
Já são passados quase seis meses ou mais, da vivência do Brasil e do mundo, com a Pandemia da Covid-19. O estado de Pandemia revelou um lado frágil e impotente do ser humano. Para se ter uma ideia dessa fragilidade e impotência, ante a uma crise de saúde, pode-se buscar no pensamento de Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, falecido em janeiro de 2017. O aludido filósofo descreveu com competência vários comportamentos da humanidade na era digital. Ainda, pela quantidade de seus escritos, com vários livros publicados no Brasil, trouxe análises das fragilidades das relações sociais, dos movimentos efémeros das economias e da produção, que ele pontuou, num paralelo comparativo, como movimentos líquidos.
Isso está estampado em um dos seus livros, A Modernidade Líquida, Bauman definiu a liquidez de nossas relações e modo de vida: “fluidez” é a qualidade de líquidos e gases. No tempo atual, presente está um universo de transformações na vida do ser humano, o que gera angústias e incertezas, que colocam as pessoas num estado de ansiedade e insegurança constantes, não é por outra razão que os consultórios de psicólogos e psiquiatras estão lotados. Há pouco tempo, ninguém tinha imaginação de que a Pandemia mundial trazida pelo novo Coronavírus (COVID-19), iria provocar uma verdadeira mortandade. Ninguém iria imaginar que um vírus iria rodar pelo mundo, contaminando milhões e milhões de pessoas, mostrando uma ciência incapaz de um enfrentamento rápido para detê-lo, trazendo com tudo isso um ataque frontal a psique de cada pessoa. Com as tomadas de medidas para redução do impacto das contaminações, tomadas pelos governos, com imposição de isolamento social, fechamento de estabelecimentos comerciais, serviço público, ruas, praças, galerias etc., parece que mais provocou uma desordem crescente. Com toda essa rápida transformação, se viu muito presente pessoas que somente enxergam conspiração em tudo e, com coragem ou estupidez, a depender do grau das lentes de quem vê, enfrentam o vírus de peito aberto, tentando fazer com que a realidade volte ao “normal”.
A verdade ainda presente é que devemos cumprir as imposições do isolamento social, tomando todas as precauções necessárias, divulgadas pelos responsáveis pela saúde, por mais incômodas que possam ser. A colaboração de todos é fundamental para evitar o contágio da doença. É tempo de reavaliar conceitos, de repensar a fluidez da vida a escorrer entre os dedos. Quem sabe a crise não é a oportunidade de dar um pouco de solidez às relações humanas e, principalmente, aos nossos comportamentos. Como tudo passa, até mesmo as maiores crises, quem sabe num tempo breve, os debates, as análises, serão comentários sobre a Era Pós-Pandemia, principalmente para uma geração que já presenciou crises sérias, dentre as quais a queda do Muro de Berlim em 1989, o colapso da União Soviética e a crise das ideologias nas sociedades ocidentais do final do século XX, eventos que também trouxeram fragilidade e insegurança, mas que passaram trazendo grandes transformações. Agora, com a Pandemia, trazendo fragilidade a todos, vamos torcer para que ela passe e que permaneça somente as melhores construções e lições, que esse vírus trouxe.
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