Em nossa situação atual, muitos parecem esperar a ascensão de um governo, ou governante, que solucione todos os problemas de nosso país, ou até mesmo do mundo inteiro. Mas será que tal situação, a de um governante com poderes de sanar todos os problemas atuais, pode ser possível e viável? Quais os meios para que um governo, ou governante, venha exercer sua autoridade sobre o mundo?
O poeta e político florentino Dante Alighieri – famoso por sua Divina Comédia -, em seu livro “Monarquia” apresenta os fundamentos e os meios pelos quais, segundo ele, um governo poderia sanar grande parte dos problemas que se apresentam a humanidade e, a partir de tais meios, buscar alcançar a paz, a justiça, e a liberdade.
Segundo Dante, para que as injustiças e problemas do mundo sejam sanados, e para que haja paz, justiça, e liberdade, em âmbito global, é necessário a instituição de um monarca universal, um líder global que seja soberano sobre todas as pessoas e governos do mundo. Segundo Dante, uma “monarquia universal” seria a única forma de governo em condições de gerar felicidade sobre a Terra.
Para Dante, para a melhor ordem do universo, seria necessária uma monarquia ou um império global. Segundo Dante, “a justiça se realiza na medida mais elevada no mundo quando reside num sujeito que quer e que pode em grau supremo”, estando acima de todas as leis e jurisdições humanas, assim como de todas instituições e lideranças. Nisso vemos que Dante tinha uma enorme esperança na incorruptibilidade de alguém que tem tudo em suas mãos, incorruptibilidade essa que sabemos não existir no mundo atual, pois, conhecendo a ambição e a maldade humana, sabemos que as coisas em nosso mundo não funcionam como Dante imaginava em sua época.
Dante exaltava as qualidades e virtudes humanas e colocava uma enorme esperança em um governo global. Ele exaltava o intelecto do ser humano, apresentando-o como capaz de conduzir a sociedade humana à felicidade e, com as suas virtudes e capacidades, o ser humano poderia recriar uma espécie de paraíso terrestre sem a intervenção direta da entidade divina.
Na tradição cristã, tal figura de um governante com poderes globais acha sua representação na figura escatológica do tão conhecido, e temido, Anticristo: um homem que terá poder e autoridade sobre todos os governos e nações do mundo.
Assim como Dante, hoje muitos almejam um líder global, e colocam suas esperanças nessa forma de governo. Mesmo não concordando com o extremo humanismo de Dante, os princípios para a instauração de um governo com pretensões globais ainda residem no enfraquecimento das leis e jurisdições, e no enfraquecimento das democracias e soberanias nacionais, para que o líder global seja a própria personificação das novas leis de um novo mundo, onde o mesmo guiará a todos através de sua vontade. E isso não seria tão bom como muitos imaginam. Nas condições atuais, daria para confiar que um líder assim seria justo e benéfico, sem desejos egoístas e que não se deixa corromper pelo poder?
Já estamos cansados de saber que a prática é completamente diferente da teoria, por mais linda que a teoria seja, de maneira que um governo assim nos traria mais problemas do que soluções.
Wanderson R. Monteiro
(Bacharel em Teologia pelo ICP)
(São Sebastião do Anta – MG)
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