Além dos princípios gerais que impulsionam os homens à
guerra, destacados nos últimos artigos, como, citados por
Einstein e Freud, o instinto natural pela violência e o
desejo de dominação, entre outros. Ainda existe um outro
desejo que age como força motriz, motivando os homens à
se embrenharem em batalhas e guerras contra outros
povos: o desejo de sobrevivência.
Países, nações, pessoas, ou impérios, se embrenham pela
via do conflito armado por o enxergarem como a única
solução para a sua "sobrevivência" e, com certeza, o
instinto de violência, de morte, de Thanatos (para citar
Freud), tem uma enorme influência para que as nações, e
as pessoas, enxerguem o conflito armado como "única"
solução para seus conflitos e desavenças. Pois, depois de
tantos conflitos armados, depois de duas guerras mundiais,
e várias guerrilhas e conflitos regionais, era de se esperar
que, ao ver tanta devastação e caos causados pelas guerras,
e com o avanço do progresso da humanidade, que o
homem tivesse aprendido a resolver seus conflitos por
meio da diplomacia, por meio da conversa, dos acordos,
das negociações… Mas, não é isso que estamos vendo…
No conflito atual, os dois lados dizem estar lutando pela
sua sobrevivência como país e nação… A Ucrânia luta para
proteger seu espaço e seu povo, enquanto a Rússia,
segundo intelectuais e o governo russo, tenta evitar ser
encurralada e cercada por seus "inimigos" do ocidente, a
OTAN, encabeçada pelos EUA. E, segundo Alexandr
Dugin, o acesso ao mar, mediante a conquista da Ucrânia,
é de suma importância para a sobrevivência da Rússia, e
para a sua existência futura, como país, como nação (e isso
também garantiria a sua expansão)… Assim, do ponto de
vista russo, do ponto de vista de Vladmir Putin, o conflito
contra a Ucrânia também é, para eles, uma questão de
sobrevivência… E assim, diante da eclosão de uma
verdadeira "guerra pela sobrevivência", o mundo acordou
para as consequências desse conflito…
De certa forma, parece que o mundo só parece
compreender assim… Só parece acordar para as coisas
sérias quando tudo chega às máximas consequências.
O conflito entre Rússia e Ucrânia já se estende por vários
anos (desde 1990, Rússia e Ucrânia praticamente travam
um conflito por causa das regiões separatistas da Crimeia,
e também por causa da base militar de Sevastopol, e seu
arsenal nuclear, heranças da antiga URSS, que estavam na
região da Crimeia, na Ucrânia. Assim, a Rússia anexou a
Crimeia a seu território em 2014, alegando que a Crimeia
queria fazer parte da Rússia, e não da Ucrânia, mediante à
um referendo (tendencioso?) onde, dos 83% da população
da Crimeia que participaram do referendo, 93% dos
participantes eram favoráveis à independência e anexação
da Crimeia, e só agora o mundo acordou para as
consequências desse conflito. E isso só aconteceu por
causa de alguns motivos: 1°) Assombro desencadeado
pelo fato de que, no mundo atual, onde já estão, há muito
tempo, estabelecidas as demarcações de países, uma nação
decide dominar outra à força, buscando ocupar e tomar seu
território. 2°) As consequências desse conflito,
geograficamente tão distante, ter nos alcançado e nos
afetado. Tudo isso ganhou uma importância tão grande
nos últimos meses, mesmo se tratando de um conflito de
décadas, por que tudo isso nos afetou e nos atingiu. Nós só
damos importância para aquilo que nos atinge e nos afeta.
As sanções que os países do ocidente impuseram à Rússia
teve a capacidade de afetar todas as nações, e o impacto
gerado pelo conflito afetou a todos. Isso é consequência do
mundo globalizado. E isso balançou o mundo, abalou suas
estruturas, e nos fez acordar para a realidade desse
conflito, um conflito que foi ignorado há tanto tempo que,
talvez, não chegaria onde chegou se realmente os países
do mundo se importasse com o que acontece fora de suas
fronteiras, antes que isso lhe afete diretamente.
Que as consequências do conflito entre Rússia e Ucrânia
nos faça despertar, – e nos importar – , verdadeiramente,
para todos os outros conflitos que ainda existem no
mundo. Conflitos esses que, ainda, não nos afetaram, e
que não ganharam tanto destaque e repercussão midiática,
mas que existem, e não podem ser ignorados.
Wanderson R. Monteiro
([email protected])
São Sebastião do Anta – MG