Artigo

CADA UMA DEIXOU A SUA MARCA

Eugênio Maria Gomes

A primeira me chegou de repente. Do nada lá estava ela, à minha frente, como se tivesse surgido de um passe de mágica. Ela era pequena, do tipo “mignon”, clara, lisa, bonita. Sim, ela era bonitinha mesmo. Em pouco tempo tive o contato com a segunda, com a terceira… Adolescência, em cidade pequena, o tempo todo na rua, vendendo salgados ou brincando de pique esconde… Nada mais propício para este encontro.
Era a puberdade aflorada, trazendo consigo aquela quantidade de espinhas, alteração na voz, suor debaixo do cobertor e muitas e demoradas idas ao banheiro. Elas também chegavam uma vez ou outra, mas sempre pequenas, de certo modo graciosas, com formatos diversos, algumas inclusive do tipo “violão”.
Foi no início da juventude que apareceu a primeira diferente, mais madura, tipo morena jambo. Confesso que foi um susto tê-la à mão, toda minha, sem muita experiência e sem saber exatamente o que fazer com ela. Nos curtimos por um bom período e, assim como a juventude passa, aos poucos fui me esquecendo dela, deixando-a de lado, mas sempre atento a qualquer alteração em seu comportamento, pois apesar de não me importar tanto mais com ela, sabia que ela precisava ser cuidada e acudida se precisasse.
Por um longo período me esqueci delas. De verdade! Acho que foram as outras preocupações… Trabalho, casamento, filhos… Ah, os filhos! A partir deles você não tem olhos para mais nada. Morávamos à beira mar, em Recife, nos idos de 1982. Muito sol, muita praia, pouco protetor solar, caipirinha e cerveja gelada no fim de semana, alegria e a atenção totalmente voltada a família, sem qualquer lembrança delas. Foram anos muito bem vividos.
Mais tarde, mudança para Juiz de Fora, depois Caratinga, sempre com foco no trabalho e na família, com elas, as outras, em segundo plano. Foi assim até que a vida me pregou uma peça… Aos 44 anos eu fiquei viúvo. Aí sim, é que não tive mais tempo, nem condições, de me preocupar com elas.
Mas os filhos crescem, se casam, se mudam… E, de repente, me chegou mais uma. Muito mais madura, mais morena, grande… Que pinta! Chegou e tomou o seu lugar, passando a ser a “chefe” de qualquer outra que pudesse aparecer. Como dizia a minha querida mãezinha, essa chegou e se esparramou. Ela era diferente de todas as outras que eu já tinha tido a oportunidade de ter. Não sei por que, mas, dessa vez, sua presença me preocupou… O que fazer com ela? Ela estava em minhas mãos, mas será que não me faria mal? Seria ela confiável? Sim, porque ela poderia ser como essas pessoas que chegam à sua vida, como se gostassem de você e se transformam em um câncer, daqueles que corroem até a sua alma…
Deixei de me preocupar muito com ela após procurar um especialista, que me disse para que eu acalmasse o meu coração, porque ela certamente não me faria mal. Ficaria feia com o passar dos anos, mas não me faria mal.
Deixei que ela ficasse ali, quieta no seu canto, já que não me causaria problemas. Além disso, eu a tinha em minhas mãos, qualquer coisa eu me livraria dela.
Aos poucos, confesso, fui mesmo me esquecendo dela, assim como já havia me esquecido das outras. Até porque, a vida passa tão rápido que, quando você menos espera, outras vão aparecendo… Sim, outras vieram… Muitas outras.
Manchas… Benditas machas senis! Antes de me lembrarem da minha finitude, elas me contam os bons momentos vividos e apontam para muitas coisas que ainda posso e devo viver!

*Eugênio Maria Gomes é professor e escritor

Diário de Manhuaçu

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