MANHUAÇU – Do sonho de estudar balé clássico nasceu uma professora, um estúdio e um projeto social. A professora de balé clássico Pollydiana Salazar há nove anos ensina a dança para crianças em Manhuaçu.
Pollydiana conta que sua história com o balé começou na adolescência. “Eu conheci o balé clássico com 14 anos, mas devido a situação financeira na qual eu vivia, pois meus pais estavam separados, eu não pude realizar esse sonho. Aos 17 anos, com meu primeiro emprego, primeiro salário, eu já paguei a mensalidade e comecei a estudar aqui mesmo, em Manhuaçu, com a Janaína Lacerda. Eu fui me apaixonando pelo balé clássico e queria mais conhecimento, então comecei a procurar cursos fora daqui, para melhorar minha técnica”.
Em 2011 Pollydiana saiu de Manhuaçu para estudar balé, voltando um ano depois e já começou a ministrar aulas na cidade. “Em 2011 eu fui pra fora, estudei na Paula Castro, onde é o método cubano, e consegui minha formação de professora. Em 2012 eu voltei para Manhuaçu e comecei a dar aulas de balé em alguns lugares. Iniciei na Fisiocenter, fiquei lá seis meses, durante este tempo eu fiquei só com uma aluna, mas era meu sonho, eu persisti. No final do ano, aos sete meses, acabei tendo mais alunas, finalizando o ano com dez. No outro ano eu iniciei no Cem (Centro Educacional de Manhuaçu), onde tive um número maior de alunas, fiquei lá durante três anos. Depois fui para a Ponte da Aldeia, fiquei mais três anos e vim aqui para o centro, onde nós estamos hoje”.
Projeto Mover
A professora também nos conta que hoje dentro do seu estúdio de dança, funciona um Projeto Mover, que ensina o balé clássico para 60 crianças de baixa renda. “O Projeto Mover nasceu de trabalhos sociais que eu vinha fazendo até mesmo antes de eu conhecer o balé clássico, e eu falava que eu ia ter um projeto social meu. Dentro da faculdade de educação física, a qual eu sou formada, eu escrevi meu projeto dentro de uma das matérias, e em 2018 eu tive a oportunidade de criá-lo”.
A reportagem perguntou se o projeto reflete aquilo que ela não pode ter no passado, quando não tinha condições de pagar as aulas de balé. “Ele vem disso também. Eu sei o que passei para poder ter essa oportunidade. Eu falei assim: Por que não? Eu sei que hoje uma mensalidade não é barata, muitos pais não tem como tirar algo de dentro de casa, para poder pagar. Sim, foi através dessa minha vivência também.”
Segundo Pollydiana, o papel do projeto é dar a oportunidade a estas crianças de aprenderem sobre a dança e socializar com outras crianças. “A dança na realidade é só o meio, nosso intuito mesmo é dar oportunidade para estas crianças para serem cidadãos melhores, e utilizamos da dança clássica para que isso aconteça, dar oportunidades a elas até de socializar. Elas fazem aulas com outras crianças que são da escola particular, então não fazemos acepção, os espetáculos são todos juntos. Queremos criar essa socialização para as nossas crianças”, afirma.
Por ser uma arte em que todo mundo pensa que apenas meninas podem fazer, nós também questionamos se há meninos nas turmas. “Nós temos um aluno, mas nós temos lutado contra esse paradigma. As pessoas têm muito preconceito, que homem não pode dançar, então nós temos lutado contra isso e vem de anos. Eu falo muito que o balé clássico na realidade nasceu através de homens, quem dançava eram homens. Nós temos um grande marco, que é o Rei Luis XIV, que foi um grande bailarino, ele foi um marco na história do balé clássico. Nós temos lutando contra isso, mas não é fácil”, pontua.
A professora também diz que as vagas no projeto não fixas e que as inscrições abrem em novembro deste, para começar os estudos em 2021. Os critérios para a criança participar é que a família tenha uma renda de até dois salários mínimos (R$ 2.090,00) e participe de uma avaliação física feita pela própria Pollydiana. “Os pais trazem toda a documentação necessária, analisamos elas e depois tem uma avaliação física que eu faço com as crianças, para ver se tem algum desvio, algum problema de saúde. Nós tivemos uma aluna, ela entrou no projeto e não tinha desvio nenhum de coluna, tem três anos que ela está no projeto. Ano passado, eu dando aula pra ela, vi que a coluna dela estava dando uma leve escoliose, conversei com a mãe dela, que a levou até o ortopedista e descobriu que estava iniciando uma doença que ia se agravar com o tempo se não cuidasse. Hoje ela está fazendo acompanhamento com ortopedista e graças a Deus teve uma melhora imensa no caso dela”, conta.
Sobre a duração dos estudos, a professora diz que são nove anos, caso a criança queira adentrar mais no universo do balé clássico. “A matéria do primeiro ano, é uma construção corporal, os movimentos básicos do balé. Chega no final do ano, a gente traz bailarinos para avaliar o nível técnico delas, aí elas vão para o segundo ano, até chegar ao nono ano e ter a formação completa de bailarinas”.
O estúdio faz uma apresentação no final de cada ano, envolvendo tanto as crianças do projeto como as que pagam mensalidade, todas juntas. Neste ano, segundo Pollydiana, não haverá essa apresentação devido a pandemia de Covid-19, mas que já está tudo pronto para uma programação online, com apresentação das crianças e workshop com bailarinos e dançarino renomados. “Devido a pandemia nós tivemos que nos reinventar, não foi fácil. É igual Carnaval, já finaliza uma apresentação e já começa a criar outra. Ano passado nós apresentamos Suite de Coppelia, e finalizamos já com outro projeto que seria Cats, que é um espetáculo da Broadway, e já tava tudo construído, mas infelizmente devido a pandemia a gente não vai ter espetáculo esse ano”. A professora adiantou a reportagem que o tema da apresentação deste ano é o café, com o nome “Nossa terra, nosso lar” e que será no final de novembro.