
Cacho nasceu em Santa Fé, na Argentina, e está em Manhuaçu vendendo seu artesanato. (Crédito Fernando Salomão – Participação Especial).
Meu nome é Chacho, tenho 35 anos. Sou de Santa fé, Argentina. Moro em Vitória, mas vim fazer um “corre” em Manhuaçú porque lá o trabalho tá muito fraco.
Com 15 anos saí da minha casa; faz 20 anos que tô viajando e 15 que trabalho com artesanato. Minha esposa também faz, mas têm ficado mais em casa com as crianças e porque está grávida de novo.
Tenho uma menina de 6 anos que se chama Frida, por causa da Frida Kahlo e um menino de 10 chamado Raul, porque quando minha esposa “tava” ganhando ele, tocou no radinho da enfermaria “Metamorfose Ambulante” do Raul Seixas .
Meu menino de 10 anos já trampa, já tem seu pano e tem 6 anos que ele começou a fazer seus próprios artesanatos.
E nesse “corre”, já conheço Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Peru, Venezuela, Colômbia, Guatemala e o Brasil. Do Brasil conheço Sul, Centro-Oeste e Norte. Achei Manhuaçu uma cidade bonita, pacata. As pessoas me trataram bem pra caramba!
A gente sofre preconceito em alguns lugares. Principalmente entrando no supermercado, na loja. Segurança tem muito preconceito. Uma vez eu e um amigo entramos pra comprar carne pra fazer um churrasco numa grande rede de supermercado em Brasília e ficaram atrás de nós três seguranças. Aí, no açougue um playboyzinho que “tava” com a namorada dele pegou 5kg de picanha e ficou na nossa frente na fila do caixa, quando faltavam umas quatro pessoas ele meteu a carne dentro do capacete , a namorada dele pegou o capacete saiu pelo outro lado e foi embora, e o segurança só olhando pra nós. Quando eu saí, o segurança “tava” na ponta do caixa e eu falei com ele – Enquanto você olhava pra nós, o playboy pegou e levou 5 kg de picanha , tio. Não rotula as pessoas.
Mas nessas andanças tem histórias felizes também… Outra vez fui trabalhar em Formiga, Minas Gerais, ainda tinha só meu filho mais velho, e ele “tava” novinho. Como não estávamos vendendo muito, dormimos embaixo da marquise numa barraca bem pequena e no outro dia quem nos acordou foi o Conselho Tutelar porque dormimos na rua com uma criança. Fomos pro Conselho. Chegando lá falei que ele tinha mamado e que não íamos deixar ele ali. Pedi ajuda à assistente social. Disse que não estávamos vendendo muito e que não estávamos maltratando o menino, nem nada. Ela gostou da gente. Pegou um telefone, ligou pra um hotel disse que tinha um casal de hippies lá e perguntou se podiam fazer um quarto mais barato. A mulher fez R$ 20 um quarto de casal. Passando os dias nós começamos a vender e a assistente virou nossa amiga, ela levou comida pra gente no hotel durante o tempo que estávamos lá e quando fomos embora, ela que arranjou as passagens. Se chamava dona Adriana e foi muito gentil conosco.
E o que eu desejo pra todo mundo que ler minha história é paz e amor, porque gentileza gera gentileza e hoje em dia a gente se esqueceu de ser gentil com os outros.