Meu nome é Valéria, tenho 33 anos e moro em Manhuaçú. Trabalho de segunda à segunda como gari e sou cabeleireira nas horas vagas pra dar conta de manter a criançada. Não tiro folga nenhum dia pra poder completar minhas sessenta horas extras; sem elas ganharia um salário mínimo. Minha sorte é que no domingo eu trabalho só a parte da manhã, então a parte da tarde eu posso ficar com meus meninos. Hoje tá mais tranquilo porque meu marido também tá empregado e trabalha tanto quanto eu, mas antes eu passei aperto, fazia tudo com um salário mínimo.
Tenho 6 filhos. O Vinícius é o mais velho, depois dele vem a Tamires e a Milena, que são minhas filhas adotivas, depois a Raquel, o Heitor e o João Emanuel.
A gravidez do Vinícius foi muito complicada, e depois dele tive 4 abortos espontâneos, então resolvi adotar. Quando faltavam poucos papéis pra eu resolver a questão da adoção, eu descobri que estava grávida de novo e mais uma vez a gravidez não foi nada fácil. Depois do meu segundo filho eu tive mais um aborto. Chateada de acontecer isso nas minhas gestações, quis adotar de novo. Meu marido relutou no início, pois já tínhamos dois filhos, mas ainda sim insisti, porque eu acho que se cada casal adotasse uma criança, não tinha tanta criança indo pra rua roubar, mexer com drogas e prostituição, depois que chega a idade que não pode mais ficar na casa de passagem. Evitaria muita coisa.
4 anos depois tive minha terceira gravidez, só que aqui em Manhuaçú já existia o Centro Viva a Vida e o médico me mandou logo pra lá. Descobri que no meu útero faltavam os hormônios que seguram o bebê até o quinto mês de gestação, ai comecei a tomar os remédios pra conseguir segurar.
Logo depois engravidei do João, outra gravidez difícil, mas eu não desisti. Quando “tava” grávida de seis meses fiquei sabendo que as meninas (Tamires e Milena), estavam jogadas na casa da família delas. Fiz meu marido sair de noite e buscar a Milena, que era mais novinha, pra passar uns dias com a gente. Cuidei, fiz uma festinha pro aniversário dela que já estava próximo, e não tem dinheiro que pague o rostinho dela quando viu os presentes. 2 meses depois adotei a Tamires.
Desde que eu perdi meu primeiro filho decidi adotar, mas só quando “tava” grávida do quarto tive a oportunidade. E tô pra te dizer que se eu conseguir mais um, eu quero. Nunca idealizei ter uma família grande, mas agora eu quero ela maior ainda.