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Documentos de Padre Júlio Maria Lombaerde vão para Vaticano e processo está na Fase Romana

DA REDAÇÃO – Importante etapa na busca do reconhecimento por parte do Vaticano quanto à Santidade do saudoso Padre Júlio Maria Lombaerde foi concluída com a obtenção e envio dos documentos exigidos, entre eles, um que não existia, até há pouco tempo: a Certidão de Óbito do saudoso Padre.

A ausência da Certidão de Óbito foi identificada quando se estava reunindo os documentos pessoais do sacerdote na fase diocesana do processo de beatificação. Imediatamente, foi apontada a necessidade de se buscar, na Justiça, esse documento.

Com este propósito, em Manhumirim, os advogados Débora Maria Assumpção e Aluer Batista Freire Júnior, pós-doutor em Direito e coordenador do curso de Direito da Fadileste, ingressaram com Ação Judicial solicitando autorização para que este documento fosse emitido pelo Cartório. Assim foi procedido e a causa foi ganha.

Após minuciosas atividades que envolveram desde a pesquisa em documentos históricos até à localização de testemunhas oculares que presenciaram o funeral do saudoso padre, no longínquo ano de 1944, e a confirmaram em audiência, conseguiu-se vencer o processo e ter acesso à tão importante certidão.

Os documentos que já existiam e estavam disponíveis foram enviados para o Vaticano enquanto tramitava a Busca Judicial visando a Certidão de Óbito. Com esta vitória no tribunal, a certidão foi imediatamente encaminhada para Roma, assegurando a continuidade do processo religioso na Europa.

Padre Júlio nasceu em Beveren-leie, região de Waregem (Bélgica), em 07 de janeiro de 1878. Ele foi batizado no dia 08, data que é considerada por muitos como seu aniversário, mas documentos na Europa confirmam a data anterior. Padre Júlio Maria Lombaerde realizou importantes obras em cidades de diferentes Estados brasileiros. Veio para Manhumirim em 1928, onde viveu por dezesseis anos e desempenhou importante papel para o desenvolvimento socioeconômico e religioso, até a data de seu falecimento em 24 de dezembro de 1944, às vésperas do Natal, quando sofreu acidente automobilístico, enquanto seguia em um carro, acompanhado do motorista, para celebrar Santa Missa de Natal. Havia chovido muito, e, conforme levantamentos, o motorista era novo e inexperiente. Em determinado ponto da estrada, o veículo se desgovernou, descendo ribanceira, até parar em um ribeirão.

Na ocasião, o susto e a tristeza pela trágica morte causaram grande comoção aos fiéis católicos e à população de todo o Estado de Minas Gerais, com grande repercussão nacional, conforme relata o Livro ‘Missão Cumprida’, do saudoso Padre Demerval Alves Botelho. O velório durou cinco dias (25 a 29 de dezembro).

“À época do falecimento, lembro-me do Padre Demerval dizendo que os sacerdotes entraram em estado de choque tendo em vista a agressividade do acidente e a perda de um importante líder religioso”, relata a advogada Dra. Débora.

No entanto, possivelmente em razão desta mesma comoção, a Certidão de Óbito não havia sido emitida.

A não existência do documento somente foi constatada recentemente, décadas depois do falecimento do sacerdote, em razão desta solicitação feita pela Santa Sé (Instituição que Administra a Igreja Católica e que é liderada pelo Papa). ‘A certidão de óbito era um dos documentos solicitados, porém não impediu o prosseguimento do processo. No entanto, este documento não poderia faltar na próxima fase. Por isto, foi imediatamente encaminhado após decisão favorável’, pontua a advogada Débora.

“Esse recolhimento dos documentos pessoais e institucionais do Servo de Deus, Padre Júlio Maria Lombaerde, incluía a Certidão de Óbito, um documento necessário e importante para a próxima esta etapa, que é a fase Romana. Todos os documentos foram encaminhados à Roma, onde estão sendo submetidos à avaliações e toda a verificação necessária para posterior validação. Em Manhumirim, auxiliei uma Comissão Histórica integrada pelo presidente, professor Aloysius Gentil Gonçalves; secretário, padre Demerval Alves Botelho (SDN); notária 1, irmã Maria do Socorro Laurentino (FCIM) e notária 2, irmã Teresinha Carvalho de Oliveira (SDN), quando tomamos conhecimento da necessidade deste documento e que o mesmo não existia. Entendemos que houve tanta comoção por causa de sua morte, que a certidão acabou não sendo providenciada na época. Tivemos, então, que tomar providências para obtê-la, considerando que era importantíssima para a próxima fase do processo. Afinal, quanto maior fosse o acerto no encaminhamento correto de toda a documentação, melhor seria para o andamento do processo. Por outro lado, a falta desse documento poderia obstar o prosseguimento do processo na fase Romana. Deste modo, assim que a decisão foi proferida, uma cópia foi encaminhada ao Postulador, em Roma.

A atuação de Padre Júlio Maria é muito presente. Ele viveu dezesseis anos em Minas Gerais, e, aqui em Manhumirim, é que se registra seu grande feito. Ele teve grandes realizações e sempre demonstrou grande preocupação com os pobres, os mais necessitados. Então, trata-se de uma personalidade muito relevante, muito importante para nossa cidade. Muitas pessoas veem à cidade para conhecer mais sobre sua história, suas obras e até mesmo visitar seu túmulo, no interior do Santuário’, mencionou a advogada Débora Maria Assumpção.

O advogado Aluer Batista Freire Júnior ressaltou que este “é um processo que, costumamos dizer, até um pouco surreal, em virtude da magnitude da situação que aconteceu no passado. Padre Júlio Maria sempre foi uma pessoa que se destacou muito por suas obras, então, é um pouco surreal imaginarmos que ele teria sido sepultado sem ter uma Certidão de Óbito para tanto. A Débora me procurou para que pudéssemos ingressar nesta ação e obtivéssemos a Certidão de Óbito Tardia, uma vez que o processo dele para Beatificação no Vaticano poderia ser prejudicado, em razão da falta desta certidão. Pois, uma vez que não se tem a certidão de óbito, a pessoa está viva. A Lei de Registro Público permite, mediante o cumprimento de certas condições como depoimentos testemunhais, provas documentais do fato, a obtenção desta certidão, por meio desta Ação Declaratória.

Assim o fizemos. Contamos com o depoimento da senhora Shirley Marone, testemunha ocular do acidente, que presenciou o trâmite deste período do sepultamento e o transporte do corpo do Padre Júlio Maria em um carro. Na Audiência de Instrução, ela assim testemunhou. Disse que esteve presente na Igreja, acompanhando o velório, que se prolongou por seis dias, em virtude da importância que o Padre Júlio sempre teve na região.

Tivemos outras documentações apostadas aos autos, como o livro do saudoso Padre Demerval, que prestou declaração de próprio punho, mas, infelizmente, faleceu antes que a audiência acontecesse. Ele seria uma das testemunhas arroladas. Contudo, ele deixou um livro em que conta toda a história do Padre Júlio Maria, cita o dia do acidente, a história do velório prolongado, entre outras informações. Então, foi uma ação que teve todo o seu cunho documental, testemunhal, totalmente aprovado pelo Magistrado. Temos que ressaltar a grande ajuda do juiz de direito da Comarca, Dr. Reidric Victor da Silveira Condé Neiva e Silva, que compreendeu a situação e abraçou a causa para que obtivéssemos esta certidão, tão importante para o trâmite da Beatificação do Padre Júlio Maria’, relatou o advogado Aluer.

Sobre atender com urgência as determinações da Santa Sé quanto aos documentos, tendo a necessidade jurídica de provar o falecimento ocorrido há quase oitenta anos (1944), os advogados Aluer e Débora pontuaram que “foi um desafio muito grande. Tivemos que começar do zero está busca documental e testemunhal. Como o fato ocorreu há muito tempo, tivemos a sorte de a senhora Shirley testemunhar a nosso favor, e, do saudoso Padre Demerval ter escrito este livro. Além disto, ajudou muito, neste contexto, o fato de o Padre Júlio ter sido sepultado na Igreja em Manhumirim. In loco, Dr. Reidric verificou a sepultura. Houve notificação aos Cartórios da região para que atestassem que não havia qualquer tipo de lavratura de certidão de óbito em nome do Padre Júlio Maria, e, assim, o processo se desenrolou. É tão interessante que é uma ação no qual o próprio Magistrado, Dr. Reidric encaminha para o Centro Histórico do Tribunal de Justiça para ficar arquivada. Então, para o próprio Judiciário foi uma ação bem interessante, como é para nós de Manhumirim e toda a região. Foi um trabalho de suma importância porque conseguimos resgatar um pouco da história e legitimá-la ainda mais”.

Sobre a sensação de trabalhar em um processo tão ímpar, os advogados pontuaram que ‘foi uma experiência muito engrandecedora para nós atuarmos nesta ação. Além de ser uma das primeiras do tipo em que pudemos protocolizar, principalmente, pelo fato de ser o Padre Júlio Maria, isso foi muito engrandecedor, saber que pudemos colaborar um pouquinho com a História de nossa região e com o processo de Beatificação, que com certeza será aprovado. Tem-se a notícia de vários milagres feitos em nome de Padre Júlio Maria’.

Entre os religiosos que se dedicam ao Processo de Beatificação do saudoso sacerdote, o pároco Heleno Raimundo da Silva (SDN, Paróquia Bom Pastor/ Manhuaçu), que é o administrador da Causa de Beatificação e Canonização do Servo de Deus, Padre Júlio Maria de Lombaerde. Ele acompanha de perto toda a tramitação do processo no Vaticano e se esforça para os levantamentos históricos e documentais, além dos registros relacionados a milagres intermediados pelo religioso belga no Brasil.

 

Um pouco mais sobre a História de Padre Júlio Maria

Nasceu o Padre Júlio Maria em Waereghen (Bélgica), aos 7 de janeiro de 1878. Foram seus pais José de Lombaerde e Sidônia Steelant. Recebeu na pia batismal o nome de Júlio Emílio.

Atraído pela vida missionária, quando assistia à Missa de um santo missionário, ainda antes de concluir seus estudos, Júlio Maria se fez “irmão branco” com o nome de Irmão Optato Maria, tendo ido trabalhar depois na África.

Em consequência de febres voltou à Europa e, sentindo-se chamado ao sacerdócio, entrou na Congregação da Sagrada Família, fundada por Padre Berthir, em Grave (Holanda) para recolher vocações tardias. Foi ordenado a 13/01/1908. Em 1912, quando fazia um bem imenso pregando missões pela França, foi de repente enviado para o Brasil (Amazônia), onde trabalhou 15 anos como missionário entre os índios e caboclos.

No Norte (Macapá) fundou providencialmente a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, tendo sido aprovada pelo Papa Bento XV. Tem-se desenvolvido muito essa Congregação.

Veio para Manhumirim, em 1928. A pedido dos Senhores Vigários, e estimulado pelo santo Dom Carloto, primeiro Bispo de Caratinga, Padre Júlio Maria, com muito fruto espiritual, percorreu grande parte da Diocese, pregando Missões.

Em Manhumirim, fundou a primeira Congregação de padres missionários genuinamente brasileira: a Congregação dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, bem como a das Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora.

Suas obras foram a conclusão do Seminário Apostólico, e a construção de grandes edificações como o Colégio Pio XII, o hospital-asilo São Vicente de Paulo, o Patronato Santa Maria [para acolhimento dos órfãos], Escola Normal Santa Terezinha, a fundação da editora e o jornal “O Lutador”, que em Manhumirim [e a editora, em Belo Horizonte] continuam vivas e progredindo nas mãos de seus filhos espirituais.

(Thomaz Júnior/ Diário de Manhuaçu)

Diário de Manhuaçu

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