Artigo

Eu queria ser a doméstica do Guedes

Pelo que se observa pelas atitudes e palavras, nossos líderes não conhecem o povo do qual lideram ou deveriam liderar.

Recentemente o ministro Paulo Guedes insinuou que as trabalhadoras domésticas vivem em uma farra turística, viajando com certa frequência para os Estados Unidos. Pelas suas palavras acredito que ele não conhece a realidade do povo brasileiro. Talvez por ter vivido boa parte da sua vida em outras terras, ou até mesmo pela insensibilidade de quem só vive nos altos padrões de luxo, em uma bolha de alienação social.

Sei que ele quis forçar uma expressão para justificar sua análise sobre a alta do dólar, mas foi de uma total infelicidade, como diria no jargão popular, perdeu uma grande oportunidade de ficar calado.

Basta um pouco de percepção social para verificar: quem no Brasil possui condições de sair da sua própria cidade para fazer turismo? Para conhecer lugares inusitados, divertidos, praias, resorts, enfim, quem dentro da realidade socioeconômica do país pode ser considerado um turista de fato? Sei que em tese todos podemos ser, mas a realidade que bate à porta dos trabalhadores brasileiros todos os dias, apontam e forçam o contrário.

Os poucos que conseguem viajar, pelo menos uma vez por ano, fazem um esforço megaextraordinário em suas finanças, sendo até chamados de farofeiros. Lembro-me de uma vez em que o governador de um estado praiano criticou vários turistas, justamente por os considerarem farofeiros. Portanto, os mais pobres, a massa trabalhadora, para o governante estas pessoas não eram bem-vindas a seu Estado.

Quem dera se os trabalhadores brasileiros, neste caso específico representados pelas domésticas, pudessem ao menos desfrutar de um mínimo de dignidade. Somos um povo que sofre com o descaso na educação, que pode ser considerada de péssima qualidade; somos um povo doente sem uma assistência que ampara seu sofrimento. Basta visitarmos os hospitais públicos para nos depararmos com o caos em que a saúde se apresenta; somos um povo que ao receber o salário faz mágica para conseguir sobreviver.

Mas para o Guedes, isto não acontece, para ele nosso salário de fome permite fazer coisas extraordinárias. E o pior, da forma que expressou como se fosse algo proibido, como se os trabalhadores mais simples não pudessem viajar para outros países, demonstrando em suas palavras, pelo que se percebe, um sentimento preconceituoso e de desconhecimento da realidade vivida pelo brasileiro.

Portanto, eu queria ser a doméstica balbuciada pelo Guedes, quem sabe assim poderia viajar, conhecer o mundo e com o dólar alto, optar por conhecer os rincões do Brasil. O que eu não quero na verdade é ser o Guedes pois ele ainda acredita que um país rico pode ser um país que faz vista grossa e finge que a pobreza não existe.

 

Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor

Diário de Manhuaçu

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