Fim, parte I

Aquele dia começou normal como qualquer outro

Na verdade, começou até bem

Inicialmente quem olhava, não imaginaria o que estava por vir

Não que fosse algo grande

A real é que era algo insignificante como o esperado

Mas ele acordou com um brilho nos olhos aquele dia

Não era um brilho de entusiasmo ou esperança

Era um brilho inédito naqueles olhos castanhos

 

Levantou-se, lavou o rosto, escovou os dentes, deu bom dia às pessoas, conversou com seu amor, acariciou sua gata…

Até então estava tudo normal

 

Foi até a varanda ouvindo sua música favorita: Nocturne in C Sharp Minor N.20, de Frederic Chopin

Fumou um cigarro e apreciou o céu

 

Ao voltar para o seu quarto, pegou um pacote no armário

Observou o pacote por uns instantes

Seu coração pulsou bem forte…

 

Sentou-se no sofá, pegou sua guitarra e deu um sorriso

Puxando um slide, faz um mi, com uma pegada de vontade

Então, começa a tocar um blues como se estivesse despedindo-se da guitarra

 

Um denso silêncio domina o local

Ele coloca o pacote no chão

Termina algo que estava fazendo para o seu amor e pede para que alguém a entregue em alguns dias

Veste sua roupa favorita: camisa do seu time e calça preta

Se senta em frente ao pacote e o encara durante alguns minutos

Faz a posição de lótus, respira fundo e pega o pacote

De dentro, ele tira uma arma e joga o pacote de lado

Coloca novamente Nocturne in C Sharp Minor para tocar

Olha para frente, coloca a arma sob seu queixo

Dando um último suspiro, ele aperta o gatilho

…

De acordo com dados o da OMS (Organização mundial de saúde), o suicídio é a terceira causa de morte de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos. Este é um grave problema de saúde pública, já que cerca de 12 mil pessoas cometem suicídio anualmente no Brasil (quase 6% da população).

Segundo psiquiatras, a maioria das pessoas que cometem suicídio sofrem de alguma doença mental, onde na maior parte dos casos, é depressão.

Os transtornos mentais são menosprezados no Brasil, principalmente a depressão e a ansiedade, que são taxados como “frescura” ou “chamar atenção”, mas são doenças graves que necessitam de uma atenção e, não apenas no setembro amarelo (o dia 10 de setembro foi escolhido como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. No Brasil, a campanha Setembro Amarelo foi iniciada há cinco anos).

Contudo, se você conhece alguém que apresenta os sintomas de depressão ou, que geralmente fala em suicídio, converse com essa pessoa e aconselhe-a a procurar ajuda profissional, mostre-a que ela não está sozinha. Vamos parar de perder vidas para essa doença por simples negligência.

-David Sampaio