Por Rachel Montesinos e Mariane Kaizer – Instituto Nacional da Mata Atlântica
Para os amantes dos anfíbios e do samba, a tríade do título parece uma combinação perfeita. Sabemos que todos os leitores aqui são amantes do Caparaó! Mas dificilmente alguém faria uma associação entre estas três maravilhas. Mas é sobre isso que vamos falar neste texto.
Paulo Emílio Vanzolini foi um zoólogo renomado, mais conhecido por seus estudos com anfíbios e répteis. Além disso, foi um dos idealizadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e ativo colaborador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), tendo sido diretor da instituição por vários anos. Com seu trabalho, Vanzolini aumentou a coleção de répteis do MZUSP de cerca de 1,2 mil para 230 mil exemplares.
Entretanto, além de zoólogo, Vanzolini foi um renomado compositor de samba. Suas mais de 70 canções já foram interpretadas por importantes nomes da música brasileira, como Chico Buarque, Alcione, Beth Carvalho, Elis Regina, Elza Soares, Maria Bethânia, Martinho da Vila e Paulinho da Viola. Uma de suas composições mais famosas é “Volta por cima”, eternizada na voz de Beth Carvalho.
Mas o que isso tudo tem a ver com o Caparaó? Em 1982, o pesquisador do Smithsonian Institution, Ronald Heyer, encontrou uma rãzinha no alto da Serra do Caparaó, há mais de 2 mil metros de altitude. Esta rãzinha foi batizada em homenagem a Vanzolini, recebendo o nome de Hylodes vanzolini. Infelizmente não sabemos quase nada a respeito desta espécie. Isso porque, desde que foi descrita nos anos 80, ela não foi mais vista na região. Hoje, Hylodes vanzolini é considerada uma espécie criticamente ameaçada de acordo com a IUCN, ou seja, ela está na iminência de desaparecer completamente do planeta, isso se já não foi extinta por completo.
Porém, ambientes apropriados para a ocorrência dessa espécie ainda ocorrem no Caparaó. Com isso, os pesquisadores ainda têm esperança de que alguns indivíduos persistem por lá.
Sabemos que machos de outras espécies de Hylodes, ou seja, parentes próximos de Hylodes vanzolini, fazem danças. Essas danças são comportamentos típicos deste grupo usados para atrair fêmeas e afugentar outros machos. Será que Hylodes vanzolini também possui (ou possuía) esse comportamento de dançar? Teria sido essa a homenagem ao famoso sambista?
Por falar em homenagem, o Caparaó também já foi homenageado no nome de várias espécies, incluindo sapos, lagartos e mamíferos. Uma delas é o Cycloramphus bandeirensis, outra espécie de rãzinha que só ocorre na região do Pico da Bandeira e por isso o nome bandeirensis.
Hoje o parque do Caparaó completa 63 anos. É um dia de festa, assim como o samba, e temos que comemorar! Mas nem tudo é festa. Sabemos dos inúmeros problemas enfrentados pelo parque do Caparaó, mas com a união de pesquisadores e moradores locais, vamos avançando na conscientização e conservação desse importante refúgio da vida silvestre. É como diz a música mais famosa de Vanzolini: “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. E assim seguimos lutando pelo Caparaó e na busca pela rãzinha misteriosa do parque.
- Ilustração das montanhas do Caparaó, a rãzinha Hylodes vanzolini (NMNH222555) e o sambista Paulo Emílio Vanzolini (Crédito: Rachel Montesinos)
- Cycloramphus bandeirensis, uma espécie de rã que só ocorre nas montanhas do Caparaó, e homenageia o Pico da Bandeira (Foto: Eduarda Melo de Abreu de Vieira)
- Ambientes de reprodução de anfíbios nas montanhas do Caparaó (Crédito: Mariane Kaizer)