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ONDA ROXA, QUARENTENA, LOCKDOWN E QUASE 3 MIL MORTES DIÁRIAS: PORÉM HOJE, EU QUERO FALAR DO EDMILSON

Edmilson tem uma pizzaria na cidade de Pipa, no Rio Grande do Norte. A sua pizzaria e praticamente toda cidade depende do turismo, que há poucos anos começou a crescer. Já faz um ano que o dono dessa história sobrevive entre o fechamento e a abertura do seu empreendimento.

Pra conhecer bem Edmilson é preciso saber que ele é um homem de meia idade, humilde, que como milhares de trabalhadores brasileiros é empreendedor e vive da alegria que oferece através da sua comida deliciosa que coloca no prato.  Sua pequena folha de pagamento tem praticamente o mesmo sobrenome, é um projeto familiar.  Mesmo em um local pequeno, rústico e com piso irregular, dá pra notar a grandeza e a força que o personagem de hoje tem em servir uma culinária autoral, recheada de ótimos insumos e cheia de amor.

Há uma semana, Manhuaçu vive o impasse de um novo decreto. Desses que castigam todo o povo brasileiro e que geralmente assolam mais fortemente o pequeno empresário, é claro. Como Edmilson, diversos outros empreendedores tiveram que fechar, para sempre, suas portas. Não podemos colocar na conta desses batalhadores e provedores de emprego, que tivessem uma reserva, até porque o lucro dessas pessoas geralmente é pequeno e mensal, e é assim que seus empreendimentos sobreviveram até aqui, cobrando o justo.

A pandemia é cruel pra quem sempre trabalhou com entretenimento. Pode ser o dono do pequeno restaurante, o músico do barzinho, o garçom que ganha por dia, a dona do buffet que tinha sempre um novo projeto ou um pequeno “coffebreak” para produzir. A pandemia é igualmente cruel para quem viu seus pais, parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho morrerem. Nada dentro desse contexto é benéfico a não ser o que tiraremos desse período.

Conseguimos observar o carinho destinado por Edimilson, quando ele aborda cada mesa perguntando se está tudo certo, limpando os restos de massa deixados sobre as mesas por outros clientes.  Também quando o mesmo dá uma pausa e para explicar e suplica que, caso feche mais uma vez, que aqueles que estão ali lhe deem preferência pelo serviço de delivery de sua pizzaria, serviço esse que o mesmo colocou há pouco tempo no seu estabelecimento.

Edmilson sabe o preço do tomate, da farinha e do óleo. Mas ainda não sofreu ao saber o preço da vida. Em um ano de pandemia, o empreendedor não perdeu ninguém pra COVID-19 e, ainda assim, passeia por sua pizzaria com álcool em gel e máscara no rosto. Toma todos os cuidados e ao parar nas mesas ocupadas, mantem o espaçamento dos clientes enquanto explica que é contra o fechamento total.

Em contrapartida, ainda assistimos a pessoas incrédulas na veracidade da pandemia. Insensíveis e incrédulos ainda realizam festas clandestinas, não acreditam na ciência que também é ridicularizada pelo presidente da República, e dispensam os hábitos que se tornaram comuns a todo a mundo há um ano!

São tempos sombrios pra todo mundo: pra quem morre, mas também pra quem tenta sobreviver. É difícil para o Edmilson, para a Maria, pro João, para o Pazzuello, para o Zema, pra todo mundo. Em um momento de profunda cooperação, a individualidade muitas vezes sobressai e contrasta com a realidade de Edmilson, que ainda assim, não tem o costume de cobrar a natural taxa de “dez por cento” destinada ao garçom.

Se for comprar, compre dos milhares de “Edmilson’s”. Seja por delivery ou em seu local físico, caso este esteja funcionando. Seja solidário a quem serviu a você tão bem e com tanto carinho por tanto tempo quando tudo isso, todo esse fantasma, ainda era impensável.

É tempo de fechar tudo? Se for preciso sim. Mas não feche os olhos pra quem precisa. Não abandone as precauções estipuladas pelos órgãos responsáveis e não abandone o ser humano. Não abandone o pequeno empresário, e esse é um pedido feito também a nossos governantes, aos munícipes de Manhuaçu, ou a qualquer pessoa que tenha a capacidade de fazer algo. Nessa pandemia, seguimos sendo seres humanos. Até porque não é apenas o vírus que mata, a falta de pão na mesa, quase que na mesma proporção, pode matar também!

 

Marllon Bento

Jornalista, Assessor de Comunicação

e Produtor Audiovisual

Diário de Manhuaçu

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