Histórias de pacientes cuidados pelo SAD ganham livro escrito por Daniel Dornelas. ‘Para morrer como um passarinho’ entra em pré-venda neste domingo (1/9) pela Amazon
DA REDAÇÃO – Há mais de dez anos, o Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD) de Caratinga leva a segurança de um hospital para dentro das casas de pacientes. Igor, Mônica, André, Lurdinha e tantos outros nomes conhecidos na Cidade das Palmeiras já são “de casa” porque aliviam dores diversas, do corpo e da alma. A admiração pela equipe motivou Daniel Dornelas, um jovem estudante da faculdade de medicina de Caratinga, a transformar suas vivências como estagiário em livro.
‘Para morrer como um passarinho’ (Ed. Oficina Raquel)reúne crônicas que encaram a vida e a morte, de frente com os sofrimentos e as alegrias do existir. As histórias tratam de amizade, carinho, amor, fraternidade e solidariedade.
Primeiramente, como ocorreu o seu contato com o SAD?
Logo no início da graduação, em 2021, conheci os médicos do serviço através da faculdade. Manifestei o desejo de acompanhá-los e fui carinhosamente recebido. Na primeira visita, nasceu uma crônica. Mais tarde, o SAD passou a ser campo de estágio para as aulas de semiologia médica. Assim, eu me apaixonei ainda mais pelos cuidados paliativos.
Qual foi a inspiração para o título do livro?
Sempre ouvi o meu avô paterno dizer: eu quero morrer como um passarinho, sem fazer barulho. Se “morrer como um passarinho” é ter conforto até o último suspiro, os pacientes do SAD com doenças que ameaçam a continuidade da vida recebem esse cuidado. Estar ao lado de pessoas amadas, com assistência multiprofissional domiciliar é qualidade de vida, é morrer como um passarinho.
Neste contexto, surge uma questão: o profissional da medicina deve informar tudo para o paciente com câncer?
A autonomia de todo paciente deve ser defendida, independente do diagnóstico. Há um protocolo a ser seguido e, se a pessoa desejar saber algo importante, esse direito precisa ser cumprido. No SAD há uma diversidade de pacientes oncológicos, alguns não pronunciam a palavra “câncer”, outros questionam e buscam informações sobre a doença livremente.
Geralmente seu contato é com pacientes terminais. Como essas pessoas lidam com a finitude?
Somos todos terminais. Por condições de saúde, algumas pessoas parecem estar mais próximas da morte que outras, mas morrer é intrínseco ao ser humano. Pode ser que eu morra antes dessa entrevista ser publicada, por exemplo. Muitos de nossos pacientes encaram a finitude e decidem aproveitar a vida que têm. Aprendi com eles a valorizar cada suspiro porque o tempo é agora.
Claro que lidar com essas situações exigem uma carga emocional. Como se preparou?
Eu encarei o medo da morte muito cedo. Quando entendi que Davi, meu irmão gêmeo, tinha uma síndrome rara e que sua saúde era frágil, passei a ter medo de perdê-lo. Fui uma criança que interpretou a morte como a grande vilã da história. Graças a psicoterapia, passei a conversar e a estudar o assunto. Isso, somado ao apoio de Igor, Mônica e André, provocou mudanças profundas nas minhas habilidades de comunicação e regulação emocional.
Falar sobre morte é um tabu. Por que escolheu este tema?
Se a morte é a única certeza que temos, como dizem por aí, por que não conversamos sobre ela? ‘Para morrer como um passarinho’ vem para isso. São conversas sinceras sobre o viver e o morrer. Histórias reais de amor, cuidado e redenção no fim da vida para promover diálogos que transformam e, aos poucos, desconstroem o preconceito.
O que você procurou focar em “Para morrer como um passarinho”?
São cerca de trinta crônicas em que relato a minha experiência diante de pacientes diversos. Foquei na importância do SUS, dos cuidados paliativos e da humanização no atendimento. A admiração pela equipe do SAD ultrapassou o meu caderno, precisou ser publicada para que todos conheçam o ouro que temos em Caratinga. Somos referência em cuidados paliativos domiciliares e quem diz isso é Mariana Borges Dias, coordenadora do Ministério da Saúde, que gentilmente escreveu o posfácio do livro. Precisamos valorizar mais o que temos aqui.
Dentre suas crônicas sobre vida e morte, tem alguma que mais te marcou?
Todas as que selecionei para o livro são marcantes, mas nunca me esquecerei do dia em que conheci um jovem, da minha idade, com uma doença progressiva. Ele fez um pedido à Dra. Mônica que me marcou muito: posso curtir um pagode? Para ele, já não importava a doença. Importava que fosse ao pagode favorito e construísse memórias de uma vida que vale a pena viver.
Refletir sobre a finitude pode deixar a vida mais leve?
Compreender a própria finitude é transformador. É abrir mão das amarras que nos prendem a um futuro incerto para viver, de fato, o presente. ‘Para morrer como um passarinho’ não é um livro triste. Pelo contrário, um convite a todos que desejam a alegria de uma vida boa.
SERVIÇO
‘Para morrer como um passarinho’ será publicado pela editora carioca Oficina Raquel, com incentivo cultural da Lei Paulo Gustavo. A obra chegará às livrarias de todo o país em outubro, mas já pode ser garantida em pré-venda pela Amazon a partir deste domingo (1/9).
Saiba mais em: danieldornelas.com.br / @lendocomdaniel
SOBRE DANIEL DORNELAS:
Mineiro, criado na zona rural de Santa Bárbara do Leste, onde nasceu.
Escolheu a medicina pelas vivências com Davi, seu irmão gêmeo que viveu 22 anos com uma síndrome rara. Daniel escreve com a esperança de curar almas – a sua e as dos leitores.
Amante nada discreto da leitura, é o tipo de pessoa que sempre leva um livro para onde vai.
Acredita no poder transformador das histórias, sejam elas reais ou não. Por isso, desde 2016 mantém páginas nas redes sociais onde indica livros e incentiva alunos de escolas públicas a se dedicarem aos estudos. “Para morrer como um passarinho” é o seu primeiro livro.