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“Trazer a luz para as nossas sombras”

Exposição da artista plástica Cantamissa Bonato é convite ao autoconhecimento

DA REDAÇÃO- “A melhor definição que posso dar de um homem é a de um ser que se habitua a tudo”. A frase é de Fiódor Dostoiévski, uma das maiores personalidades da literatura russa. E de fato, o ser humano convive com diversas emoções, que passam pela alegria e a tristeza. Emoções humanas abstratas e, por vezes, difíceis de lidar.
E com a missão de “trazer luz para as nossas sombras”, a artista plástica Márcia Cristina Cantamissa, 28 anos, ou Cantamissa Bonato, como é conhecida, expõe a sua arte em sua terra natal: Conceição de Ipanema.
A exposição integra o 10° Circuito Cultural Arte entre Povos, que teve início na última quinta-feira (24). Oficinas, palestras, música e teatro também fazem parte da programação, que se encerra hoje. No entanto, o trabalho de Cantamissa Bonato estará disponível para visitação até o dia 1° de novembro.
Em entrevista ao DIÁRIO, ela fala sobre seu processo criativo e afirma que a arte é fundamental para o ser humano.

Quando descobriu sua aptidão para as artes e como iniciou a carreira como artista plástica?
A descoberta da aptidão ocorreu durante o ensino básico, no entanto, não tinha o conhecimento da arte como profissão. Quando entrei na universidade, no segundo semestre de Ciências Sociais foi que descobri o curso de Belas Artes, que havia uma graduação em Arte. Pensei, e fiz a mudança de curso. Hoje sou formada em Licenciatura em Belas Artes pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O curso, mesmo sendo uma licenciatura, proporciona uma bagagem prática muito enriquecedora. Durante a graduação me especializei em escultura e foi aí que comecei a traçar os primeiros passos para uma carreira artística.

Você faz seus desenhos em nanquim. Por que optou por esta técnica?
O nanquim ele dá o que eu preciso: a penumbra. Meus personagens estão sempre nessa transição de luz e sombra, está imerso nelas. A escolha vem muita por aí. Essa exposição tem trabalhos numa outra técnica, que se tornou ainda mais familiar que o nanquim: a xilogravura. São técnicas poéticas, que possibilitam a subjetividade, a profundidade que tanto busco.

Você estudou no Rio de Janeiro, mas desejava fazer sua primeira exposição em sua terra natal. O que leva uma artista a preferir se afastar dos grandes centros culturais e apresentar seu trabalho no interior, onde essa cultura ainda é pouco difundida?
O amor pelo seu torrão de terra. [rs]. Eu tenho uma grande paixão pela minha cidade, Conceição de Ipanema tem muito potencial. Quando saí daqui, isso em 2011 para estudar no Rio de Janeiro, o objetivo sempre foi de busca, visando o retorno onde aplico o conhecimento adquirido. Fazer minha primeira exposição aqui na minha terra tem esse significado: estou trazendo a oportunidade para as pessoas que moram aqui, para os meus alunos, a de experienciar uma sala expositiva. Ontem (sexta-feira) foi a vernissage da minha exposição, foi uma surpresa de público, quase 100 pessoas passaram por lá, e hoje tenho a certeza da escolha. É essa gratificação de proporcionar tal experiência que me trouxe de volta. Sei que estou no caminho certo.

Através dos seus traços, você procura expor as emoções humanas abstratas. Como é trabalhar temas de tamanha profundidade?
Delicado [rs]. Porque estou ali, é muito do meu processo interno. É levar a minha experiência, as minhas angústias, minhas dores, medos para o papel, e que também são processos compartilhados por muitos. O que busco é trazer consciência dessas questões, trazer a luz para as nossas sombras. E mais que isso, assumir e aceitá-las. As pessoas têm medo da solidão, também já tive, mas ela foi sempre muito presente, até que um dia a convidei para um café, e tudo mudou. É na solidão, é no estar consigo mesmo, que ocorre o autoconhecimento, e isso é o mais importante.

O que você pretende demonstrar com ‘Reflexos da Alma’?
Que todos nós somos duais: temos luz e sombras. Os nossos medos, nossos fantasmas, e que está tudo bem, o que precisamos é trazer luz a elas. Quando li pela primeira vez Dostoiévski fiquei vislumbrada, me marcou muito. Não há medo de fazer um mergulho profundo na alma humana, e ele traz essa dualidade em seus personagens. Isso me fascina. É isso que pretendo: que as pessoas ao ver meu trabalho, sejam levadas a essa consciência, que possam mergulhar nessa profundidade de seu ser, e ir além, ir à reflexão. Acima de tudo, sentir.

Sua exposição integrará o 10° Circuito Cultural Arte entre Povos, em Conceição de Ipanema. Qual a importância da realização de eventos como este para a cidade?
A Arte é fundamental para o ser humano, ela transforma, possibilita enxergar o mundo com outros olhos, e acredito que por isso é tão pouco difundida, é perigosa, entende? E dentro do cenário atual, promover eventos de arte e cultura é um ato de resistência. Pensando nisso, foi criada uma Associação aqui em Conceição de Ipanema – Associação Sociocultural Concipa. Formada por um pequeno grupo de pessoas e um único objetivo: promover atividades artísticas, desportivas, educativas e cidadãs. A associação já promoveu vários eventos e o 10° Circuito Cultural Arte entre Povos está entre eles. É muito gratificante. Essa experiência que estamos tendo aqui na cidade, nos dá a segurança que estamos no caminho certo. Essa é a sensação que estou hoje, após a abertura da minha exposição: Promover espaços de arte e cultura é o caminho. Vocês podem conferir mais sobre a atuação no site: https://www.concipa.com.br

OLHO
“As pessoas têm medo da solidão, também já tive, mas ela foi sempre muito presente, até que um dia a convidei para um café, e tudo mudou”.

Diário de Manhuaçu

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