Muitos desejam uma segunda chance na vida, poucos são aqueles que a conseguem. Daqueles que a conseguem, poucos são aqueles que realmente a valorizam, repetindo os mesmos erros, ou cometendo erros ainda piores do que os anteriores, jogando sua nova chance no lixo, enquanto seu tempo de vida se escorre pelo ralo.
Essa segunda chance costuma surgir após um período difícil provocado por alguma doença que, devido a sua gravidade, ameaça levar a vida de quem foi afetado por ela, de maneira que, após esse período, tais pessoas possam vir a precisar de apoio, auxílio, e meios para viver a segunda chance que lhes foi dada.
As bases de sustentação para essa segunda chance podem vir de muitos lugares, como a religião, a família, os amigos, ou a compreensão de um sentido que se transforma na luz dessa nova chance, de modo a fazer com que as coisas se tornem diferentes.
Quando somos afetados por uma doença grave e sobrevivemos a ela, nos resta duas opções: agradecer por termos sobrevivido e recomeçar nossa vida, refazendo nossos planos, aproveitando a nova oportunidade dada, estando agradecidos pela vida, mesmo apesar da dor e de todo o sofrimento que tivemos que superar; ou focar somente em nossos males, preferindo nos ver como vítimas injustiçadas, ignorando a nova oportunidade dada, culpando Deus, a vida e o destino pelas batalhas enfrentadas, julgando que, por nossa fé ou nossa vida honesta, deveríamos ser imunes aos males que assolam todo e qualquer ser humano.
Seja de uma forma, ou de outra, a doença tem a capacidade de mudar nossas vidas, tem a capacidade de mudar completamente nossas histórias, sendo necessário muita resiliência e compromisso para com nós mesmos para que sigamos em frente e recomecemos nossas vidas.
Muitas vezes, para que isso seja possível, podemos precisar de contar com a ajuda de outras pessoas, pessoas que nos apoiarão, nos darão forças, que compartilharão suas experiências e aprendizados conosco, nos dando forças para continuar. Para isso foi criado “O Clube da Segunda Chance”, onde uma psicóloga recém-formada atua como mediadora de um grupo formado inteiramente por pessoas que, de alguma forma, receberam um forte golpe da vida, mas que tiveram uma nova oportunidade, uma segunda chance em suas vidas. À medida que as sessões avançam, ela percebe que não está diante de dores comuns, mas de abismos que ameaçam tragar a todos, inclusive ela mesma. Em vez de simples relatos terapêuticos, emergem verdades que ninguém queria ouvir e segredos que, uma vez expostos, já não permitem retorno.
Em seu livro de estreia “O Clube da Segunda Chance”, o jornalista e escritor José Horta aborda e explora essa tentativa de recomeço, nos apresentando personagens que tiveram essa nova chance de viver e ressignificar suas vidas e as dificuldades que cada um deles enfrentam pelo caminho na busca de reescrever sua própria história.
Servindo como ótimos exemplos da vida real, os personagens de seu livro buscam dar sentido à sua nova chance por meio da dedicação e ressignificação a partir das experiência religiosa, outros, por meio da dedicação ao trabalho e da construção de um império por meio acumulação e busca incansável pelo poder e dinheiro, enquanto outros encontram o sentido dessa nova chance vivendo na prática de seus ideais, sendo guiados e colhendo os frutos de seu existencialismo, aproveitando e colhendo os resultados de sua história, dia após dia.
A narrativa se desenvolve em torno de cinco vidas estilhaçadas que, por caminhos diferentes, encontram-se dentro de uma sala de terapia coletiva. Ali não há máscaras que resistam, pelo menos, não por muito tempo; cada uma carrega cicatrizes que o tempo não conseguiu cicatrizar — algumas visíveis, outras tão profundas que nem o próprio sujeito ousa nomeá-las. O que deveria ser um espaço de cura transforma-se, pouco a pouco, num espelho cruel onde culpas adormecidas despertam e feridas antigas e antigos segredos reivindicam explicação.
Entre os integrantes do “clube da segunda chance”, há uma mulher que superou o câncer, mas não o abandono; uma jovem marcada pelo trauma do sonho de uma maternidade que nunca se realizará; um funcionário público corrupto soberbo, acostumado a esconder o vazio atrás da arrogância; um religioso que se apoia em um discurso que nunca viveu, um discurso que só serve de máscara para esconder quem ele realmente é; e um ateu que carrega, desde a infância, ressentimentos e experiências que lhe servem tanto de sabedoria, de armadura, quanto de cárcere.
Ao ler o livro, somos confrontados com a incômoda pergunta que tem o poder de transformar vidas e realidades: e se o recomeço que tanto desejamos viesse acompanhado de um preço que não estamos prontos para pagar?
Assim, “O Clube da Segunda Chance” não é só um livro sobre recomeços, mas, também, sobre o custo oculto de confrontar a própria alma, e a sua própria verdade.









