Artigo

A Questão Não Está em Pauta

Margareth Maciel de Almeida Santos

Doutora em Sociologia Política

Membro do Instituto Nacional dos Advogados do Brasil (IAB)

 

Em quem você votou para Presidente do Brasil em 2018? Jair Bolsonaro, Henrique Mandetta ou Sérgio Moro?

No artigo que enviei para o Diário de Caratinga, no domingo retrasado, lhes falei sobre o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman. Citei a figura do camaleão, “na compreensão da identidade, como sendo um processo que oferece liberdades, e ao mesmo tempo uma sensação de angústia no indivíduo moderno.”

Tenho comigo, que mesmo aqueles que são bolsonaristas, tenham ficado entristecidos com a saída de dois ministros que estavam à frente da saúde e justiça em nosso país. Leia-se Mandetta e Moro. Nas palavras do presidente Bolsonaro, em relação aos seus ex-ministros, tive a impressão, que o presidente queira inaugurar uma forma de defesa, onde as acusações que fez contra um e o outro, me fez entender que a violência simbólica, isto é, quando se denigre a imagem do outro, por meio de palavras, é a melhor maneira de solucionar conflitos.  Por outro lado, quando vi por meio da mídia, a “DANÇA DE MANDETTA, deixando o país em uma crise de saúde pública, fiquei sem entender qual realmente era a sua intenção com o paciente, já que ele falou por muitas vezes, “que não abandona paciente”. Como assim, se saiu demonstrando felicidade? Também me surpreendeu as acusações de Sérgio Moro ao presidente, quando também abandonou a pasta de ministro da justiça em plena crise de segurança, econômica e pandêmica. Como entender tal atitude?

O discurso do presidente Bolsonaro, me fez recordar a figura de Margaret Thatcher, conhecida como a “Dama de Ferro” onde “consenso é a negociação da liderança”. O comando de um grupo de ministros, a autoridade e a obediência e ainda o investimento em suas ações, que tem por finalidades, gerar resultados positivos, para o projeto político defendido por ele. Essa é a ideia de Bolsonaro.  Ele lidera com a convicção, que haja um consenso em seu ministério, onde este, esteja alinhado às suas ideias, relacionado aos valores cristãos e contra a corrupção e o desrespeito social, a miséria do povo brasileiro. Todos os ministros devem conhecer, o sistema interno e desenvolver níveis de confiança.  Ainda entendo, que para ele, o poder não pode tolerar fraquezas, e ser presidente de uma economia expressiva como o Brasil, ele, Bolsonaro, não poderá ficar refém de ministros. Precisa liderar e negociar para que o   projeto de país idealizado por ele, seja compatível com o que acredita.

É necessário também destacar que o perfil autoritário de Bolsonaro é um empecilho à implementação das medidas para proteger os direitos fundamentais do povo brasileiro, que de certa forma despreza as recomendações dos técnicos do Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde.

Bolsonaro recebeu o Brasil, com um declínio acentuado na economia. O ex-presidente Lula, em 2015 não conseguia mais governar o país, estava sem aliados, sem base. Isso foi muito grave para que a agenda política progressiva de que tanto se falava na época, não fosse para frente. Bolsonaro ao demonstrar aversão ao presidencialismo de coalização, parece não entender que ele precisa de habilidade política para lidar com parlamentares e conferir heterogêneas alianças para que possa realizar uma ação estruturada e consequentemente concretizar sua agenda governamental.

Em um período de crise econômica e pandemia, “boas intenções não faltam”. Articulações, flexibilização das normas são inadmissíveis para Bolsonaro, se não passarem por sua análise.

Acredito sim, que Bolsonaro já realizou ações positivas, em pouco tempo, com a ajuda de seus ministros. Para ele, a corrupção é o pior mal do país. E é!  A luta contra a corrupção, que o ex-ministro, Sérgio Moro travou de quando ainda era juiz, é inquestionável. Associou não apenas desvios do patrimônio público, como também os direitos sociais. Vimos na era PT, os fenômenos culturais financiados com obras de corrupção, além do índice de desemprego ter assolado o país.

O que existe debaixo da crise da pandemia? Um buraco entre a segurança e obrigações do Estado?

O problema ao meu ver, é que tudo aconteceu de forma muito acelerada. A pandemia nos pegou de surpresa!  Tudo foi muito rápido, e rompeu de certa forma o projeto de Brasil idealizado por Bolsonaro.  Mas também não posso deixar de dizer que a falta de políticas públicas para a saúde, segurança, educação, crise sanitária, humanitária e econômica são produtos de governos passados. Apesar da pandemia, causar uma dor sem dimensão em todos nós, acredito na solidariedade social e que o incremento de políticas de intervenção do Estado, estão a todo vapor para reduzir os impactos danosos. Entendo que Bolsonaro não se preocupa tanto com a questão do que o coronavírus causa nos indivíduos, mas vemos claramente que o sistema capitalista incorporado em sua pessoa, acredita que a questão econômica, mata mais que o coronavírus. O desrespeito social deixado por outros governos, a pobreza extrema que o Brasil se encontra, é a grande preocupação do governo.

É preciso colocar também que as ações, para preservação da vida reflete uma ideia imaginária, onde os direitos humanos estão sendo menosprezados, quando vemos falta de máscaras, equipamentos para enfermeiras, enfermeiros, médicos e falta de atendimento nos hospitais, além de pessoas que querem se aproveitar do momento de instabilidade que estamos vivendo.

Dado à conjuntura política, acredito que o apoio popular à democracia e ao presidente Bolsonaro, caso este tenha sido o seu candidato, é a única força que teremos para que o Brasil possa ser reformado para o bem de todos. Não podemos regredir, e precisamos desenvolver nosso espírito crítico envolto em um vórtice de verdades e mentiras. E é assim, precisamos aprender ser camaleões, pois o discurso bolsonarista se radicaliza para a economia, o trabalho que dignifica o homem. Por outro lado, diante da Covid-19, o Estado parece nos dizer, que o governo vai definir quem vai viver e quem vai morrer!

Vamos intensificar nossas reflexões para que possamos construir um Brasil melhor para todos!

PAZ e BEM!

Diário de Manhuaçu

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