Ildecir A.Lessa
Advogado
Todos os brasileiros, certamente, vem sentido o impacto dos preços dos alimentos de um modo geral, nos supermercados, mercearias, feirinhas, etc. Economistas apontam que tudo isso é reflexo das constantes altas nos preços do combustíveis, a seca que assola o país todo, aliados a outros fatores, também um real aumento do consumo de alimentos, em razão da Pandemia, tudo conforme dados fornecidos pelos Institutos que fazem análises dessas alterações.
No círculo das pessoas de baixa renda, observou-se um maior consumo de pé de galinha, de ossos pelancas de carne. Outro quadro que se aflora e preocupa é o da forma. Tem-se o registro de 19,1 milhões de brasileiros com fome em 2020, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan). Na matemática da cesta básica, observa-se que, o auxílio emergencial que, no ano passado, em seu valor máximo (R$ 1.200), chegou a comprar duas cestas básicas e sobrar, agora, mesmo em seu maior valor (R$ 375) não compra nem 60% da cesta básica.
Em meio a essa realidade, as crianças são as mais afetadas, já que são os lares com pequenos os mais propensos a estarem na pobreza e na extrema pobreza. Não restam dúvidas que, a Pandemia do coronavírus teve um efeito devastador sobre a segurança alimentar no Brasil. O aumento no número de brasileiros passando fome, de 10,3 milhões em 2018, para 19,1 milhões em 2020, representa um crescimento de 85% em dois anos.
O resultado fez a Oxfam — organização internacional que atua no combate à pobreza, desigualdade e injustiça social — classificar o Brasil como um dos focos emergentes de fome no mundo, ao lado da Índia e da África do Sul. Mas deve mesmo ser observado e relembrado que, um dos fatores que explica a crescente dificuldade dos brasileiros em se alimentarem adequadamente é a perda do poder de compra do auxílio emergencial, em meio à redução do valor do benefício e à alta da inflação.
Em abril de 2020, quando o auxílio começou a ser pago, ele tinha valores que variavam de R$ 600 a R$ 1.200. Naquele mês, a cesta básica custava R$ 556,36 em São Paulo, segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Ou seja: mesmo com o valor mais baixo, era possível comprar todos os produtos da cesta e ainda sobrava algum dinheiro. Assim, quem recebe o valor mais baixo só consegue comprar atualmente 23% da cesta básica. Quem recebe o valor médio, 38%. E mesmo quem recebe o valor mais alto — pago às mães solteiras chefes de família — só consegue comprar 58% da cesta. Considerando que as pessoas também têm aluguel e contas básicas para pagar, a perda do poder de compra do auxílio emergencial dá uma dimensão da precariedade em que têm vivido os brasileiros mais pobres. Nesse quadro sombrio, o problema da alimentação torna-se a bolada da vez, principalmente para as famílias de baixa renda e isso parece não ser nada agradável no Brasil.