Mas a metodologia, como anda?
Tem havido mudanças na forma de ensinar. Sentimos a
necessidade de trazer à consideração um quadro do
modelo de ensino dos dias de Jesus comparado ao que é
usado hoje em dia. Estamos, na verdade, lidando com duas
culturas não só de épocas diferentes, mas também com
uma forma de entender a educação e a formação de forma
diferente.
O quadro comparativo reflete as diferenças entre as
culturas hebraica e greco-romana em relação aos
elementos básicos no ensino da fé cristã. Vemos de
imediato que se trata de duas maneiras bastante
diferentes (para não dizer ‘opostas’) de entender a vida
cristã, e que diz respeito, principalmente, à forma de
preparar suas lideranças (desde o berço).
A igreja primitiva, seguindo o modelo dos seus pais,
crescia e se desenvolvia a partir de relacionamentos (como
era o costume na cultura hebraica), que não acabavam nem
mesmo com a inclusão social do último membro de uma
família que tenha demorado para aderir ao novo
“movimento”. O apelo de todo ensino visava ao coração,
pois dele “[…] procedem as fontes da vida”. Não havia
“programa” a não ser o que Jesus tinha vivido e ensinado
diante deles, e exigido que os apóstolos passassem
adiante: “[…] ensinando-os a observar todas as coisas que
vos tenho mandado.
O verbo “ensinar” significava mais do que apenas passar
informação. Podemos entendê-lo como um plantar de
sementes com sabedoria e em cuidar que germinem e se
tornem árvores, que ao seu tempo darão fruto. No sistema
hebraico, segundo o quadro comparativo [não-impresso
por falta de espaço], o apelo, a orientação, as aplicações
bíblicas, as atividades ministeriais, os resultados – tudo
é totalmente diferente do que foi desenvolvido pelo outro
método, o greco-romano. Assim, usando esta comparação,
vem a pergunta: – O que estaria faltando em nosso método
pedagógico?
A partir de Platão (427-347 a.C.) temos o
desenvolvimento da “academia”. Orígenes (185-254) foi
um dos precursores da educação na era cristã,
transformando a escola de catecúmenos na primeira escola
de Teologia. As aulas ‘discursivas’, como são de praxe
hoje, estavam iniciando. A razão era óbvia: alunos de
novas culturas precisavam ser preparados, e o Evangelho
precisava ser compreendido e explicado de outros pontos
de vista. Mas era o tempo em que a filosofia grega era
‘universal’. Assim, além da tradução para outras línguas,
achou-se necessário trabalhar nos conceitos. Com isso a
Teologia foi muito afetada. Ela foi integrando, além das
exigências dos césares [romanos e outros], vários
raciocínios e ideias da cultura e religiões greco-romanas.
Unido a esta preocupação surge também a força do
antissemitismo. Este fato, infelizmente, levou mesmo as
mais altas autoridades bíblico-teológicas [até mesmo, as
recentes] a fazer ‘vista grossa’ às diferenças básicas na
forma de desenvolver ou formular conceitos ‘cristãos’.
Esta adaptação de conceitos hebraicos à filosofia greco-
romana causou uma “intervenção linguística” que afetou
profundamente o entendimento da fé bíblica.
Resumindo o quadro comparativo, a nossa dificuldade
para aceitar “plenamente” o modelo II [greco-romano] tem
dois lados:
Primeiro, os relacionamentos são afetados
profundamente. Os elementos básicos do estilo de
vida cristão só podem ser apreendidos via uma
exemplificação em “carne e osso”. Por outro lado, é
muito mais fácil "ensinar" usando o modelo grego,
pois um único instrutor pode atingir milhares e
milhões (através de livros, internet, TV, etc.). Este
método predomina por ser muito mais acessível e por
atender à necessidade de milhões de sedentos por
instrução. Mas ele traz consigo um lado negativo, o
qual talvez seja impossível de consertar: os
relacionamentos são, via de regra, muito superficiais,
enquanto que a argumentação, o debate, [ou, para tais
efeitos, a memorização] são essenciais. Os modelos
humanos para serem imitados deixam a desejar.
Segundo, a época mais apropriada da formação
básica do novo participante da sociedade é perdida: a
época mais propícia para essa formação são os
primeiros anos, até à juventude. Mas há quem
acredite (e muitas vezes, com razão) que os pais não
têm condições de educar seus filhos. Assim, o
modelo grego tornou-se predominante, e por isso,
surgem escolas para tudo. A influência que evoca e
modela as características essenciais (humanitárias,
altruístas) de um líder não acontece debaixo de uma
linha coerente durante os anos formativos, isto é, na
infância e na juventude. Através de seminários,
cursos e especializações tentamos remediar, mas em
muitos casos, já é muito tarde.
Assim, se quisermos pessoas generosas, prontas para
seguir o Mestre de corpo, alma e conta bancária, e que
buscarão por maior justiça social na comunidade, temos
de examinar o método que usamos em nossas escolas.
Jesus sempre teve modelos diante de si, e, sobretudo, se
tornou o modelo maior para todos.
(Extraído do nosso livro/e-book A GENEROSIDADE
COMEÇA DE CIMA, Parte I, Mas a metodologia,
como anda? Págs. 29-33)
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de
Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino
Doctum – UniDoctum [email protected]