Ildecir A.Lessa
Advogado
As notícias que são divulgadas pela imprensa diariamente dão conta que mais de 126 mil pessoas já morreram nos Estados Unidos devido à doença da Covid-19 — o maior número de óbitos do mundo. O Brasil vem logo atrás, com 62 mil mortos até esta sexta-feira (03), segundo dados da Universidade Johns Hopkins. Na América Latina poderá ter 438 mil mortes por Covid-19 até outubro. As Américas como um todo concentram o maior número de casos e mortes por Covid-19. Até 29 de junho, a região registrou 5,1 milhões de casos e mais de 247 mil mortes.
O lado positivo também vem sendo registrado. Os registros dos órgãos de saúde apontam que de dezembro de 2019 a maio de 2020, quase metade das pessoas infectadas por Covid-19 no planeta foram curadas. Isso representa mais de dois milhões e meio de pessoas. No Brasil, 166 mil venceram a doença, segundo o Ministério da Saúde. Contudo, certamente mais mortes virão porque, dados de informações dos Integrantes da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço regional nas Américas da Organização Mundial da Saúde (OMS), disseram nesta semana que o pico da epidemia no Brasil pode ser em agosto e que o país poderá ter mais de 80 mil mortes até lá. Isso, se as condições de combate ao vírus continuarem as mesmas, conforme estimativa feita com base em modelos matemáticos que levam em conta uma série de cenários.
Mesmo com muitas mortes, deve ser destacado que o sistema de saúde do Brasil é um dos melhores da América Latina e do mundo, conforme já foi reconhecido até pela Organização Mundial de Saúde. Em meio à Pandemia e a uma doença que causa tanta angústia e incertezas, para doentes e suas famílias, uma ação de humanização vem sendo usada por diversos hospitais no Brasil que vem marcando a alta dos pacientes como uma vitória. Literalmente! Entre a documentação médica e com as orientações que recebe ao deixar os hospitais, o paciente ganha o “Certificado: Eu venci a Covid-19”. Um documento simbólico, mas de grande significação para marcar a recuperação e a retomada da vida após o Coronavírus. Os hospitais justificam o procedimento, como uma forma de uma ação de humanização, para dizer ao paciente que ele é um vitorioso. Como os aplausos que os profissionais dão ao se despedir dele, o ‘Certificado: Eu venci a Covid-19’ marca essa vitória e será levado para casa para lembrar ao paciente sempre de que ele lutou bravamente contra o Coronavírus e se recuperou.
O interessante é que os certificados têm feito sucesso entre os pacientes, que os exibem com orgulho na saída do hospital. Na verdade, são dezenas de histórias que envolvem dor, medo, incerteza, mas também muita esperança e fé na cura da doença. Cada um reage de um modo específico à doença que mais assusta a humanidade neste século devido à rápida propagação, a violência com que o vírus age no organismo humano, a falta de recursos na saúde para enfrentar a Pandemia e o tratamento – com protocolos divergentes.
O certo é que, o medo da morte é inerente à condição humana. Existir e ter medo, neste caso, são comportamentos siameses. Nas sociedades ocidentais, tornou-se uma característica mais forte das pessoas, mais impregnada nas relações cotidianas, de forma velada, silenciosa e, muitas vezes, abafada. É um tabu, sobretudo.
A morte pode chegar de diversas formas, como, por exemplo: por um acidente de trânsito, assassinatos, alagamentos ou desmoronamento em áreas de risco, surtos de doenças repentinos, avanço de moléstias mais graves. Todas essas formas podem ser vistas como tragédias humanas, cada uma delas sustentadas no medo da morte. Mas agora, tudo que se fala são nas mortes provocadas pela Covid-19 e, quando se recupera tem o cerificado “Eu Venci a Covid-19”. Triste são as mortes, pois os mortos não podem exibir o Certificado “Eu Venci a Morte”!