Fran Oliveira, 34 anos explica que entender de café não é apenas para homens
MAHUAÇU – Existia um tempo que lavoura de café, produção, venda, e outras questões eram restritas aos homens. Mas Fran Oliveira, 34 anos, moradora de Manhuaçu, vem provando que as mulheres trabalham bem em qualquer área, inclusive com o café.
Fran é provadora de café, especialista em café especiais, mestre de prova, em torra, barista, e também faz a prova do commodity (café simples).
Aos 17 anos, Fran se mudou para uma propriedade, e à época não sabia ao certo tinha que faculdade faria. Desde cedo, a jovem foi criando um gosto pela produção de café, e resolveu estudar e se especializar. ‘Comecei a me especializar e fazer diversos cursos na área do café, tive apoio da Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) e de outros órgãos para melhorar o café da propriedade e ter um valor agregado também. Foi uma felicidade muito grande, porque no primeiro ano desse trabalho, na época lembro que vendi nosso café três vezes mais caro do que estava valendo no commodity, e foi pra nós um incentivo como produtores”, conta a especialista em café.
Atualmente Fran não é mais produtora, mas continua dando assistência técnica aos produtores que querem migrar do tradicional para o café especial. “Dou assistência nas propriedades e faço também os laudos sensoriais, provas de torra, e a torra também de cafés especiais para os produtores que precisam, além de prestar serviço para as exportadoras como provadora de café. Os cafés especiais são produzidos por pessoas especiais, ele tem todo um trabalho, não é um café que se colhe e cuida de qualquer maneira, é um pós-colheita, todo um cuidado, um mapeamento. O produtor tem que ter muito capricho para produzir esses cafés que geralmente são direcionados para torrefação, cafeterias ou público final. Quem gosta de um bom café e já entendeu os benefícios de um café especial para a saúde, e sabe que o bom café não deve ser exportado sem consumir”.
Fran conta que trabalha com produtores de vários locais, que mandam a mostra de café para que ela faça o laudo sensorial, e depois envie para sua cartela de clientes de torrefações, para Coffe Lovers e donos de cafeterias. “E aí eles compram direto do produtor esses lotes de café, o bacana é que a comercialização é feita direta do produtor com o comprador final, então há uma clareza muito grande. Então a minha parte é fazer o laudo, dizer ao produtor o que o café dele é, e o preço de mercado, dar uma base”, explica Fran.
PRECONCEITO E VITÓRIA
Como mulher, Fran Oliveira contou que não foi fácil entrar para esse ramo que era mais dos homens. “No início sofri diversos preconceitos, mas isso não me desmotivou, porque amo o que faço. Na época em que estava na propriedade ouvia muito comentário que eu deveria fazer outra coisa, mas meu ex-marido me incentivou, me ajudou, a continuar nesse caminho, e tenho muito orgulho, porque hoje consigo incentivar mulheres. As mulheres tem potencial, não mais que os homens, mas tanto quanto, e são mais sensitivas, mais delicadas, mais caprichosas, e no sensorial para os café especiais é preciso ter uma memória afetiva, é lembrar daquele cafezinho da vovó que ela passou lá no fogão à lenha quando você tinha cinco anos, e aquele cheirinho vem em sua cabeça, aquele bolinho de polvilho, o bolinho de chuva que ela fritava, isso a mulher tem guardado na memória, e como geralmente somos nós quem cozinhamos, a gente prova diversos temperos, doces, então a gente já tem esse paladar mais apurado para os café especiais. Acredito que a mulher chegou nos cafés especiais e commodity também para agregar valor, somar ao lado do esposo e do comércio de café”, destacou.
Fran explica que os cafés são levados para diversos países através de containers, sendo que o café especial é em menor quantidade, pelo fato da produção ser menor.
MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS
Os cafés das Matas de Minas já são cafés especiais, segundo Fran Oliveira, devido a topografia e ao solo, mas em sua opinião o produtor precisa fazer algumas mudanças para ter um café com ainda mais qualidade. “A gente tem uma topografia incrível, um solo incrível, a gente tem o café das montanhas, um café que já é frutado por natureza, porém no pós-colheita o produtor estraga o café. Quando a mentalidade do produtor mudar e ele começar a ver o café como ouro que realmente é, a gente terá muito mais café especiais, e a nossa produção vai passar da metade da produção do país, quem sabe, para cafés especiais, porque a gente tem potencial, a gente tem qualidade, só que a gente precisa de produtores com a mente mais aberta, dispostos a ter esse capricho, esse cuidado que demanda mesmo um tempo, mas que vale muito o retorno”, finalizou Fran.