Artigo

O MISTÉRIO DO POUCO, DO PEQUENO

Quando viu o homem todo machucado, ficou com muita pena dele. Lc 10.33b

A imagem mais forte do Fantástico do último domingo foi a cena num quarto de UTI: uma cama com apenas um paciente, sendo atendido por, no mínimo, 8 pessoas (enfermeiros? médicos?), todos de branco, encapuzados da cabeça aos pés. Um trabalho de equipe extraordinário, para salvar uma vida, enfrentando uma realidade que nem consigo imaginar, e que não desejo para ninguém. Foi muito semelhante ao que nós ouvimos – há 2 meses – que estava acontecendo na Itália, na Lombardia (Teo-crônica 2). Não queríamos acreditar. Agora, o mesmo está acontecendo aqui no Brasil.

Mas houve imagens muito confortadoras na telinha também. Lembro-me de uma reportagem em especial, de uma moça negra no Rio de Janeiro. Falava da comunidade dela (uma das favelas), sem os serviços básicos (água, saneamento), mas o que impressionou foi a sua postura. Ela sabia que a mudança, a transformação de seu ‘habitat’ dependia dela também. E que ela podia fazer algo, que era conscientizar os seus vizinhos – e assim, começar com pequenas coisas básicas, como limpeza (nas casas, nas ruas – colocando o lixo no seu devido lugar), e pequenas melhorias – a partir dela, da casa dela, dando exemplo, trazendo alegria, espalhando confiança, esperança.

Ou sobre aquele prefeito que está dando o exemplo: ele é o primeiro a pegar a vassoura, a pegar o lixo no chão, a ajudar um velhinho, a andar dentro das leis e normas no trânsito, a portar a máscara…

A pergunta que vem é: – Como podemos mudar o que se apresenta em estado crítico, lamentável, em ruínas, ao nosso redor, em nossa sociedade?

Creio que, em primeiro lugar, cada um de nós precisa acreditar que o “EU POSSO” pode realmente fazer mudanças “EM MINHA VIDA”, em meus hábitos e costumes: tirar o que é danoso para a vida, e praticar o que é saudável, que contribui para uma saúde melhor. O comentário de nossos filhos nos EUA é que, apesar do número elevadíssimo de casos, e óbitos também, uma nova CONSCIÊNCIA está sendo criada. Mesmo reabrindo as lojas, as fábricas, as escolas, e outras áreas mais, cada um está um pouco mais cuidadoso, mais consciente, e mais preocupado em não trazer o mal para si e para o próximo.

Consciência, sensibilidade, consideração – um espírito mais cordato, mais modesto, menos desafiador. Mais harmonia, menos domínio do “eu”!

Pessoalmente acho que, num caso assim, até o menor, o mais simples, e o mais fraco socialmente pode ser uma ajuda, um incentivo para trazer mudança e transformação.

Óbvio: há pessoas, e grupos que estão fazendo grandes lucros com a miséria alheia. Isso é muito triste, escandalosamente horrível, mas infelizmente, está acontecendo em muitos (todos?) os lugares. CONTUDO, isso não deve nos influenciar. Precisamos dar oportunidade ao bem e ao bom que está em nós, que isso possa sair de nós e que possamos fazer a nossa parte. Embora aos nossos olhos isso seja uma contribuição pequena, pode, porém ser o começo do novo, de um novo começo para muitos.

Sempre fico impressionado quando me lembro do alfabeto hebraico. Todos sabem que um alfabeto comporta todas as letras usadas numa língua. No hebraico, há letras grandes, mas há UMA que nem parece letra, pois, comparada aos símbolos que usamos no português, é como a vírgula, ou a apóstrofe – um tracinho que se escreve no alto da linha.

O que há de especial nessa letra, chamada YUD, é que COM ELA SE INICIAM as principais palavras daquela língua: é com ela que começa o nome mais santo e precioso de Deus, o nome tão amado da eterna capital da nação, e, também, o próprio nome do Messias, Aquele que todo o povo judeu espera como o Salvador deles e do mundo todo, começa com a letrinha YUD.

Por isso, hoje, no Brasil, ao me lembrar dela, dessa letra que nem letra parece ser, penso em você e em mim, neste mundão de milhões de pessoas em nossa pátria: O QUE PODEMOS FAZER PARA SUPERARMOS ESTA CRISE que já “faturou” demais – vidas, sonhos, planos, alegria, esperança, felicidade, e muitas coisas mais – O QUE EU POSSO FAZER? Pois

– Sou ninguém. Mas posso ser alguém que ajuda na minha casa.

– Sou tão insignificante; mas posso ajudar àquele que está sozinho e não tem ninguém para olhar por ele.

– Posso ajudar quando estou na rua, e, por isso, respeito meu próximo da melhor forma. Está valendo usar máscara? Lavar as mãos? Evitar aglomerações? Vale, sim.

– Vale a pena estar bem informado? Sim, mas muito cuidado com os exageros, e, sobretudo, com aquelas notícias que não têm sustentação na verdade.

– Sou tão pequeno, mas posso começar ALGO que pode mudar muita coisa. O que é? Como eu descubro?

Sugiro que continuemos a buscar – cada um por si, e cada família unida, em conjunto – esta inspiração e instrução.

O costume de iniciar o dia com a Palavra de Deus é incrível. Encontrei no domingo passado um senhor distinto que está fazendo isso. Ele me disse que a leitura está fazendo um bem muito grande para ele.

Não importa nossa idade, nossa experiência, ou o quanto estudamos antes. Sempre é tempo de buscar a Palavra de Deus, a Sua compreensão das coisas, dos acontecimentos. Teve um dia que Jesus chegou a criticar os líderes religiosos porque não estavam entendendo o que acontecia diante deles – em outras palavras, que eles não conseguiam ver que Ele era o Messias que eles tanto esperavam.

Com certeza é tempo de orar, jejuar. De buscar a Deus. É tempo de perdoar, de confessar, de estender a mão para aquele que vem pedir perdão. É tempo de dar comida, roupa, dinheiro para o gás, etc. – ao que não tem. É tempo de ajudar na organização e ordem da comunidade. É tempo de consolar com ajuda sólida os que estão sofrendo perdas, de bens, do emprego – e perda de pessoas queridas, que vão faltar para sempre.

Tudo isso – e muito mais – são coisas pequenas, que às vezes parecem insignificantes. Mas pode ser o início de algo bem grande, algo que vai transformar a nós, e ao nosso próximo.

A parábola do bom samaritano é um ensino fantástico de Jesus para quem faz tais perguntas. Foi assim: Um estudioso, religioso, perguntou ao Mestre o que deveria fazer. Ao invés de responder, ele perguntou: — O que é que as Escrituras dizem? O homem respondeu: — “Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças e com toda a mente. E ame o seu próximo como você ama a você mesmo.” — A sua resposta está certa! — disse Jesus. — Faça isso e você viverá. Querendo, porém, se desculpar, perguntou outra vez: — Mas quem é o meu próximo? Jesus respondeu assim:

            30 — Um homem estava descendo de Jerusalém para Jericó. No caminho alguns     ladrões o assaltaram, tiraram a sua roupa, bateram nele e o deixaram quase       morto. 31  Um sacerdote viu o homem, e passou pelo outro lado da estrada.       32  Um levita passou e olhou, e também foi embora pelo outro lado da estrada.         33 Mas um samaritano chegou até ali. Quando viu o homem, ficou com muita         pena dele. 34 Então chegou perto dele, limpou os seus ferimentos com azeite e   vinho e em seguida os enfaixou. Depois disso, o samaritano colocou-o no seu       próprio animal e o levou para uma pensão, onde cuidou dele. 35 No dia     seguinte, entregou duas moedas de prata ao dono da pensão, dizendo: — Tome conta dele. Quando eu passar por aqui na volta, pagarei o que você gastar a       mais com ele. 36 Então Jesus perguntou ao mestre da Lei: — Em sua opinião,      qual desses três foi o próximo do homem assaltado? 37 — Aquele que o         socorreu! — respondeu o mestre da Lei. E Jesus disse: — Pois vá e faça a      mesma coisa.  (Lucas 10).

Aí está o mistério do pouco, do pequeno, do quase nada: O bom samaritano não ficou olhando para os lados, desejando achar uma saída para si. Nem com medo de se dar mal, ou até, de ser assaltado. Curioso que não ‘se lembrou’ que estava sozinho. (Que bom que não tinha celular! Ele iria perder tempo tentando ligar…) Ele apenas se concentrou na necessidade do outro. E assim, fez tudo para salvar aquela vida preciosa!

Este é, de fato, um mistério grandioso! A mesma palavra cabe aqui para nós também: – Vá e faça o mesmo!

 

Rev. Rudi Augusto Kruger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – rudi@doctum.edu.br

 

Diário de Manhuaçu

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