Política e Religião

A política é um assunto muito importante a ser discutido
pelas pessoas em um país, ou, pelo menos, deveria ser.
Durante certo tempo, parecia que boa parte dos cidadãos
do Brasil não queriam saber sobre tal assunto, pareciam
inertes, sem se importarem muito com qual rumo nosso
país estava tomando.

De alguns anos para cá, percebemos que isso mudou, e a
política voltou a ser pauta das discussões da maioria das
pessoas de nosso país. Seja na conversa de pessoas do
mais alto nível da esfera social, ou na "prosa" do cidadão
comum, hoje, a política é debatida e discutida por todos, e
é assim mesmo que deve ser. Desde que seja com respeito,
e de uma maneira saudável, os assuntos da "pólis", ou do
país, devem mesmo ser motivo de preocupação para seus
cidadãos, onde cada um lança seus argumentos para
defender aqueles que ele acha mais preparados para
governar a cidade ou a nação.
Como a política tem sido assunto de todos, não é de se
espantar que tal assunto também despertasse o interesse
dos líderes religiosos em nosso país e, muitos deles,
entraram de cabeça nesse assunto, mesmo que não tenham
tanto conhecimento sobre o tema.
Tendo como sua responsabilidade guiar seu rebanho pelos
melhores e mais seguros caminhos, o líder religioso busca,
em todas as áreas e assuntos, mostrar as melhores opções
para aqueles que confiam nele e o enxerga como uma
autoridade e, diante dos vários conflitos e caminhos
tortuosos que abundam em nossa vida e cotidiano, a
política tem sido um deles. Mas, como tem sido as ações
dos líderes religiosos (principalmente os cristãos) diante
do caos que é a política brasileira?
Assim como a política ganhou o espaço nas conversações
populares, ganhou também espaço dentro das igrejas, onde
os líderes, de algum tempo para cá, vem politizando o
discurso bíblico.

E, assim, muitos desses líderes parecem enxergar o Brasil
como uma peça chave diante do cumprimento
escatológico, e enxergam a política como fator
desencadeador para a ascensão do Brasil, não só como
potência em todas as áreas humanas, mas também como
uma espécie de "receptáculo" no qual reside a mais pura
religião e relação para com Deus, de maneira que,
qualquer coisa que venha a atrapalhar esse
"relacionamento religioso" pode vir a desencadear
"grandes catástrofes" morais em todo mundo pois, da
maneira como muitos se expressam, parecem enxergar os
acontecimentos políticos nacionais como uma peça chave
no futuro, não só da própria nação, mas para o mundo
todo.
Assim, politizando o discurso bíblico, muitos líderes
religiosos, assim como seus liderados, enxergam os líderes
políticos nacionais como grandes heróis, "servos de Deus",
que "combatem" contra o mal, e contra todas as
artimanhas malignas intentadas contra o povo.
Esse "mal" que deve ser combatido a todo custo por tais
líderes vem diretamente de seus adversários políticos,
transformados em grandes inimigos que agem sobre a
orientação e vontade de um mal maior. Agindo assim,
passam a ideia de que a disputa política não é
simplesmente a disputa entre pessoas que buscam ocupar
posições mais altas em cargos "representativos", mas
passa a ser, segundo o que querem passar, a disputa do
bem contra o mal. De um lado, aqueles que só querem o
"bem", só pensam no "melhor" para o povo; do outro,
aqueles que só querem trazer o "mal" para a nação, através

de projetos e leis projetados para "corromper" a moral e os
bons costumes do povo. Para o pobre desavisado, até
parece que os dois lados não são formados por pessoas da
mesma laia, de maneira que o povo fica no meio do fogo
cruzado, sem enxergar uma solução viável.
Mas, mesmo vendo que essa batalha de insultos e
acusações não têm levado o país a lugar algum, muitos
ainda enxergam os políticos como fonte de esperança para
suas vidas, para a vida da nação e, até mesmo, para todo o
mundo, depositando nos mesmos toda a sua fé. E é fácil
perceber que isso não é só maneira de dizer, já que, na
maneira de dizer e agir de muitos líderes e liderados,
muitos parecem depositar a sua verdadeira fé (no sentido
religioso do termo) nos líderes políticos de sua
preferência, enxergando os mesmos como pessoas com
poderes quase que sobrenaturais, capazes de acabar com
todas as mazelas do país, e até do mundo, pelo simples
fato de serem eleitos.
Como uma coisa assim não é possível, nossas cidades e
país continuam sempre indo de mal a pior, pois, com o
passar dos anos, os tais líderes políticos (seja de qual lado
for), que eram/são vistos como enviados de Deus para
resolver os problemas da nação, sempre se revelam ser
muito distantes daquilo que se vendiam e, mais uma vez, o
povo se vê na dura realidade de ter sido encantado pelo
cântico dos políticos, ainda tendo em si o agravante de
terem sido "validados" pelos líderes e discursos religiosos.

Wanderson R. Monteiro
Formado em Teologia, coautor de 4 livros e vencedor de
três prémios literários.
(dudu.slimpac2017@hotmail.com)
(São Sebastião do Anta – MG)