Artigo

Retratos Falados (Reflexão após o Corona Vírus – “A quarta onda – O novo normal”

Quando somos confrontados com esta realidade, inserida com o advento desta pandemia, que nos coloca diante de uma linha tão tênue entre ser ou não ser, entre valores efêmeros e transcendentais, somos levados a refletir sobre a nossa existência.

A reflexão, que se nos apresenta, é a fragilidade da nossa vida, o que nos dá sustentação, o que realmente importa: familiares, amigos, as coisas mais simples como um abraço, um carinho, uma manifestação de apreço, enfim, o que de fato tem relevância, tem significado. A vida, tão frágil, tão curta e nós nos agarramos a ela com tanta força! Ela é o sopro da eternidade em cada um de nós, mas…

O que conta realmente? Viver, porque como diz Baum (1999), em sua Modernidade Líquida, tudo é fluído, todo se desmancha no ar… E os nossos valores?… São sólidos ou são líquidos?

Levados a uma reflexão sobre tudo que está acontecendo, nos perguntamos, se de fato estamos dispostos a mudar, depois deste  novo paradigma global, que apenas com o elogio das aspas gostaria de me apropriar da criação de um dos maiores estudiosos de nossa época, Alvin Tofler (1980) – “A terceira onda”, que dividiu o desenvolvimento da humanidade em três momentos, que ele chamou de ondas: (1) Revolução Agrícola; (2) Revolução Industrial e, (3) Revolução do Conhecimento e denominar este novo tempo que iremos vivenciar, este novo tempo que estamos entronizando, às custas de muitas reflexões obrigadas ou permitidas por este tempo de “quarentena”, de isolamento social, que antecipa ou instala um novo paradigma social, que seria o “novo normal”, que chamaríamos, quase genuflexos, devido a grandeza da origem e a simplicidade da nossa proposta, de “A quarta onda – o novo normal”.

Importar com os moradores de rua, oferecendo-lhes abrigos, agasalhos, alimentação, dignidade, “bancarizacao”, dignidade, quanto até pouco tempos assistíamos com tristeza profunda alguns desequilibrados e psicopatas atearem fogo em seus corpos ou até mesmo um pseudo cidadão, que desferiu tapas no rosto de um pedinte a mim me parece um novo tempo. “Um novo normal”.

Importar com os outros, proteger-se e proteger os demais, ficar em casa, usar as mídias sociais para abraçar os mais vulneráveis, especialmente aos idosos, mantidos carinhosamente em isolamentos, de forma bem diferentes dos asilos e casas de convivência, que de convivência de fato não tinham ou não têm nada. Este novo olhar, esta nova maneira de acolher aquelas pessoas, que foram responsáveis por amalgamar os caminhos, que nos trouxeram até aqui, me parece uma boa nova, “Um novo normal”.

Governantes das economias centrais, em sua maioria, orientados pela mantença dos fundamentos econômicos do neoliberalismo, gerando garantias de renda mínima para os mais necessitados, socorrendo nações periféricas em nome da proteção à vida, em socorro à disseminação de uma pandemia, me parece um novo tempo, mesmo que suportado por interesses de autoproteção. Isto é ou pode ser um novo normal.

A busca incessante por pesquisas orientadas para a geração de medicamentos e vacinas, em detrimento dos investimentos em armas nucleares, em corrida armamentista ainda não é, mas pode ser um novo normal.

O trabalho em home-office, a distribuição de mercadorias e alimentos através dos entregadores, a boa “comidinha” caseira, abrindo uma brecha para fazer um elogio a minha esposa e parceira da vida toda, que se aventurou, embora não tenha muitos pendores para cozinha, preparou uma carne de lata tão saborosa, que se equiparou aos verdadeiros quitutes das nossas avós, as aulas online, a criatividade aflorada, a mudanças de relações comerciais, entre outras ações, me parece um novo tempo, ou antecipa um novo tempo. “Um novo normal”.

O novo varejo, ou o novo arranjo produtivo local deve deslocar-se para os pequenos negócios regionais, para as relações de afinidade, de confiança. Me lembro da venda do Sr. Neném, na minha saudosa terra natal, que fornecia os suprimentos do mês para minha família. Carne de charque, fumo, gêneros de primeira necessidade, querosene para ascender as lamparinas, não havia energia elétrica suficiente, macarrão e etc. Ele já conhecia o nosso arraçoamento, caso recebesse poucas mercadorias, separava os pedidos dos clientes firmes, que hoje chamamos de fidelizados em Marketing. Anotava na caderneta. O meu pai guardava a caderneta num baú, debaixo de chave. Entregava mediante justificativa e supervisão. Se deixasse à vontade a gente exagerava e acabava comprando biroscas, papel para fazer pipa, pião, canivetes e outros supérfluos, que acabavam onerando as despesas e ultrapassando o poder de compra da família.

Num novo tempo chegaram os Dornelas, na minha terra. Antonio, Estêvão, Dionísio e um outro. Não me lembro. Mantiveram o mesmo relacionamento. Caderneta, fidelidade, etc. era o normal, daqueles tempos. Me parece que o novo normal é o que era o normal. Engraçado né? Será que vamos voltar aos velhos e saudosos dias de nossa infância?

Também comprávamos na Cooperativa dos trabalhadores do DNER. Quem trabalhava lá era o Sr. Modesto e o João de Freitas. Ali quem podia comprar eram só os familiares dos rodoviários. Algumas famílias compravam grandes quantidades e revendiam no comércio local a baixos preços para conseguir algum dinheiro antes do pagamento. A Cooperativa só descontava 30% do salário, logo, comprava-se muito e mantinha-se a regularidade dos descontos, permitindo-se o chamando “macaco”.

Alfaiate, farmácia, colégio, etc, era em Dom Cavati, uma cidadezinha pequena e aconchegante, distante a sete quilômetros de minha “terra natal”, sou de Residência, por adoção, íamos até a pé, quando não tínhamos como pagar as passagens. Estudei no Colégio Itaúna nos anos 60. Guardo uma saudade imensa dos Professores, dos colegas de aula, das trapalhadas, das caronas, até de umas briguinhas com os colegas.

Tudo se resolvia por perto, nos chamados APL – Arranjos Produtivos Locais. Aliás John Naisbitt (1999), na sua obra “Paradoxo Global”, citando uma análise de Freddy Heineken, CEO da Cervejaria Heineken, afirmava, reforçando a futura tendência, este autor é um reconhecido futurólogo, e também este entendimento do novo normal, que “quanto maior a economia global, mais poderosos são os protagonistas locais”. Esta será a nova onda, “A quarta onda”, o novo paradigma.

Parece que aquele frisson pelos shows, pelas rodadas de cervejadas e comilanças, orgias e turismos desgastantes de viagens exaustivas de compras compulsivas, ou consumismo, podem dar lugar ao aconchego do lar,  às mesas fartas em torno dos fogões das nonas, das sinhás, das mãezinhas e mainhas, das churrasqueiras e roletes dos pais, irmãos e até dos cunhados, meio malas, os casos engraçados,  as mentiras, piadas e bravatas dos mais engraçados, tudo isto me parece a antecipação de um novo tempo, que foi introduzido com a “quarentena” que nos foi imposta de maneira severa pelo novo corona vírus, “Um novo normal”.

Acredita-se que aquela corrida desenfreada por trabalho, dinheiro, passeios, compras, shows, etc, nunca mais vai ser igual, nós aprendemos e precisamos nos proteger, dos valores exorbitantes, das vaidades exageradas, das atitudes exóticas e narcisistas, tudo terá ou deverá ser revisto, por circunstâncias, por imposição ou necessidade,  seja pela falta de recursos, seja por mudança de valores, por medo, ou porque esta tendência,  que já estava acontecendo por consciência social, foi aprofundada pela maior crise global do pós segunda guerra. É um novo tempo, um novo normal, uma nova onda do desenvolvimento da humanidade. “A quarta onda – o novo normal”.

Tomara que a inteligência artificial, a indústria 4.0, a holografia, o teletransporte,  as viagens interplanetárias, os veículos autônomos, nada disso nos distancie do aconchego do lar, do abraço dos familiares, da economia solidária,  da qualidade de vida, do transcendental, da presença de um ser onipotente, onipresente e onisciente,  de Deus,  que nos faça sentir saudades do Paraíso,  um lugar feliz e farto onde a presença de um ser supremo era maior e mais importante do que a deificação de coisas, de pessoas, de situações e de circunstâncias que estavam nos tornando cada vez mais insensíveis e distantes da criatura feita à imagem e semelhança de Deus. Este deverá ser ou será o novo paradigma da humanidade. Um sonho, uma esperança, uma utopia, ou uma realidade. “A quarta onda – o novo normal”, com as minhas desculpas, elogios e até com um pouco de constrangimento à genialidade e inventividade de Tofler (1980) e a sua Terceira Onda, um estado da arte sobre a análise de tendências.

(*) José Carlos de Souza, Cel. QOR-PMMG, Adm.

Diário de Manhuaçu

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