Regional

“Somos vistos como pessoas que ‘produziram o vírus’”

Relato de paciente com covid-19 demonstra o preconceito que o infectado sofre

CARATINGA- O diagnóstico de covid-19 é difícil para quem recebe, primeiro em questão de saúde, mas, também em relação aos olhares da população. Logo que um caso é confirmado na cidade, o que se vê é uma verdadeira “batalha” nos grupos de conversas para se apurar quem é e onde mora. A justificativas são: “Precisamos saber se é alguém que está perto de nós”.

A imprensa divulga apenas a localidade de residência (município ou distrito), idade e sexo. Informações que são oficialmente repassadas pela prefeitura e hospital, mas, demais detalhes não são repassados por questão de sigilo do paciente. No entanto, tais informações que não são divulgadas oficialmente acabam vazando através da própria população, que espalha até mesmo fotos dos infectados, por meio de buscas em suas redes sociais.

Do outro lado, quem sofre com a doença encara o preconceito. O DIÁRIO conversou com uma paciente que testou positivo para covid-19. Ela fez um depoimento anônimo à reportagem para relatar como ela e sua família tem enfrentado este momento; dois familiares dela estão internados, um deles já teve também o resultado de seu exame confirmado e outro, embora ainda não tenha o resultado oficial/final, está sendo tratado com protocolo de Covid.

“Eu tive contato com esses dois casos, pois cuidei deles. Como minha imunidade já estava baixa por outra doença, já imaginava que seria muito provável que meu teste fosse positivo, ainda mais que estou apresentando os sintomas. Estou isolada em casa desde o dia da hipótese diagnóstica testar positivo. Haja vista que tive contato e também estou sintomática. Meu esposo também está em isolamento”, frisa a paciente.

Questionada a respeito do preconceito das pessoas, ela responde que são “todos os possíveis”. “As pessoas que são sintomáticas (meu caso e de minha família) estão sendo vistas como pessoas que “produziram o vírus”, porém somos todos vítimas. As pessoas fazem comentários maldosos, “correm” de pessoas que tiveram contato com um de nós. E é aí que observo quão grande é a ignorância e falta de conhecimento, pois possivelmente o primeiro caso de contaminação da minha família foi através de contaminação comunitária”, lamenta.

A paciente ainda faz uma reflexão: “Se todos os infectados por covid ficassem doentes, já imaginou como seria muito mais fácil controlar? A questão é que os assintomáticos que estão contribuindo para a contaminação comunitária são os primeiros a apontar o dedo pra quem tá doente e se esquecem de fazer sua parte”.

Ela reforça a importância de se seguir as recomendações e medidas de higienização a respeito da prevenção. “Não espere passar por uma situação dessa para entender o quanto usar máscara e álcool, embora seja chato, continua sendo muito importante. O isolamento mais ainda. É fato de que hora ou outra vamos ter contato com pessoas próximas, pessoas idosas da nossa própria família que precisam de banho, comida, etc, e fazendo esse bem você evita de se contaminar e contaminar o outro”.

Segue em desabafo, falando a respeito de como a saúde mental de toda uma família pode ser afetada. “Ninguém conhece a vida de ninguém e todos nós somos vítimas da pandemia. Eu não produzi o vírus, minha família também não! E você também não! Entende como foge do controle? Não há profissão ou formação que te inibe de ter o contato com essa doença que é física, mas que detona a saúde mental do doente e de toda família. E o preconceito faz muito mal”.

A paciente finaliza pedindo empatia e compreensão da população, para que seja possível atravessar este momento que é difícil para todos. “Para de apontar dedo, para de aumentar o que já tá ruim, para de julgar quem já tá sofrendo na pele, no corpo e no bolso as dores dessa “gripezinha” (que vai continuar sendo gripezinha, pneumoniazinha, denguezinha, até testar positivo pra Covid, né?). Não julgue, seja empático. Não seja parte da minoria que usa as redes sociais para disseminar coisas ruins e palavras que não agregam em nada nesse momento, alimentando suposições que não fazem o menor sentido. Faça sua parte e continue orando a Deus pela nossa nação”.

Paciente relata que doença afeta a saúde mental do doente e de toda família

Diário de Manhuaçu

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